O impune empresário genocida Carlos Pedro Blaquier morreu nesta segunda-feira na cidade de Buenos Aires aos 95 anos.
Com informações da Agência Télam, CELS, HIJOS
Blaquier nasceu em Buenos Aires em 28 de agosto de 1927 e foi considerado um dos empresários mais ricos e poderosos da Argentina.
A empresa Ledesma o lembrava como um “emblema do empresariado argentino” e “um grande defensor da industrialização nacional”, embora sua figura tenha sido marcada por denúncias de participação na organização de crimes contra a humanidade na província de Jujuy, no que foi conhecido como “A Noite do Apagão”, entre 20 e 27 de julho de 1976, no início da ditadura comandada por Jorge Rafael Videla, na qual cerca de 400 pessoas foram sequestradas, das quais 55 continuam desaparecidas.
Filho de María Esther Estrugamou Guillón e Carlos Félix Miguel Blaquier Álzaga. Carlos Pedro Blaquier teve uma trajetória empresarial ligada à Ledesma por sete décadas, onde ingressou em 1952, aos 25 anos, e uma década depois assumiu a direção geral da empresa.
En 1970, los padres de su esposa, Nelly Arrieta, le encomendaron la tarea de presidir el Ingenio Ledesma, el más importante emprendimiento azucarero del país, cargo que ejerció por espacio de 43 años hasta 2013 y del que llegó a poseer el 90% de acções.
Durante sua gestão, a empresa expandiu sua atuação para além do setor sucroalcooleiro para se aventurar na agricultura, citricultura, derivados de milho, produção de cadernos e papelaria e, por fim, na produção de energia por meio de gás e bioetanol.
Em seu aniversário de 90 anos, em homenagem a ele prestada pelo Conselho Interamericano de Comércio e Produção, Balquier repassou sua passagem pela empresa e valorizou a participação de seus cinco filhos em seu Conselho de Administração: “Através deles, a direção é garantida para quando eu não estiver mais aqui”, disse.
Na semana de 20 a 27 de julho de 1976, Blaquier teve participação ativa na organização do que passou a chamar de “A Noite do Apagão”, consistindo em uma série de sequestros de cerca de 400 pessoas dos povoados de Jujuy, em Libertador. General San Martín e Calilegua, muitos dos quais trabalhadores da Usina Ledesma.
Em 2012, foi processado pela Justiça Federal de Jujuy como cúmplice principal em 26 casos de privação de liberdade ilegal no caso Burgos, por ter facilitado os caminhões para realizar a transferência dos sequestrados e por 36 sequestros seguidos de assassinato e desaparecimento durante a Blackout Night.
Em março de 2015, a Câmara IV da Câmara Federal proferiu improcedência e foi preciso esperar até julho de 2021 para que o Supremo Tribunal de Justiça anulasse a decisão de segunda instância.
Blaquier morreu sendo processado e aguardando julgamento oral pelos sequestros e desaparecimentos ocorridos em 1976 em Jujuy, no que grupos e organizações ligadas à defesa dos Direitos Humanos caracterizaram como “impunidade biológica”.
Em outra investigação judicial, Blaquier foi apontado em setembro de 2022 como um dos chamados “clientes VIP” da Escola de Yoga de Buenos Aires.
Em sua conta no Twitter, o grupo HIJOS Capital o lembrou como “o civil do horror em Jujuy. Na ditadura genocida e agora também”, após o que frisaram que morreu “sem sentença judicial, mas com repúdio popular”.
IMPOR
Morreu o empresário que participava do terrorismo de Estado Carlos Pedro Tadeo Blaquier. O civil do horror em Jujuy. Na ditadura genocida e agora também. Sem sentença judicial, mas com o repúdio popular. Beneficiado sistematicamente pela corporação judiciária. pic.twitter.com/6ISZURBb0v— CHILDREN Capital (@hijos_capital) 13 de março de 2023
A deputada Myriam Bregman a descreveu como “um exemplo dos grandes empresários que participaram e se beneficiaram do golpe genocida, daqueles que passaram a ter núcleos clandestinos em suas empresas, fato aberrante que se tentou apagar da história recente”.
A impunidade de que gozava Blaquier era tão grande que, quando denunciei na Câmara dos Deputados o papel de sua empresa Ledesma na ditadura cívico-militar, ele me enviou uma carta-documento ameaçadora.
— Myriam Bregman (@myriambregman) 13 de março de 2023
O líder justicialista Jorge Rachid disse que Blaquier era “um empresário do genocídio civil sem julgamento” e lembrou que durante a Noite do Apagão “desapareceram delegados sindicais de sua empresa, assim como o prefeito da cidade de Libertador, Luis Aredez, um médico exemplar”.
UM EMPREENDEDOR CIVIL GENOCIDA NÃO JULGADO
Blaquier faleceu
A mão da Justiça não alcançou
A “NOITE DOS BLACKOUTS” foi sua obra sinistra
Delegados sindicais de sua empresa desapareceram
Também o prefeito da cidade Libertador
Luis Aredez médico exemplar
NÃO É JUSTO !— Jorge Rachid (@drjorgerachid) 13 de março de 2023
A Corrente Militante Lealdade convocou uma marcha para o dia 24 de março “também por Olga Aredez e pelos familiares dos detidos desaparecidos em La Noche del Apagón, talvez o exemplo mais claro de cumplicidade civil com a ditadura, refletido na figura de Carlos Blaquier”.
Morreu Carlos Pedro Tadeu Blaquier.
O ex-presidente da empresa Ledesma foi processado em 2012 pelo sequestro de trabalhadores daquela usina de Jujuy em 1976.
Embora 11 anos tenham se passado desde aquela acusação, Blaquier morreu sem ser julgado por esses eventos.
— CELS (@CELS_Argentina) 13 de março de 2023
Em nota, Ledesma destacou que Blaquier “deixa uma visão do país, o exemplo de esforço e trabalho diário, sua pregação em favor da industrialização e da integração, seu otimismo permanente apesar das adversidades, sua vocação para a excelência e seu profundo amor pela Argentina” .
Source: https://argentina.indymedia.org/2023/03/13/murio-a-los-95-anos-carlos-blaquier-icono-de-la-connivencia-empresarial-con-la-dictadura/