Eduardo Germán Maria Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940 – Montevidéu, 13 de abril de 2015)
Uruguai -Memória-
Eduardo Galeano
Com o 32 nas costas
Carlos Amorín*
4 .9.2024
Todos nós sabemos o Eduardo Galeano escritor e poeta, jornalista, colunista de destaque em inúmeras publicações internacionais, o “contratapista” da página 32 do semanário Brecha. É por isso que hoje vou lembrar e compartilhar como “Companheiro de Brecha”.
Alguns nasceram para jogar de centro, outros para ser goleiro ou ponta direita. Eduardo nasceu para fazer gols. A partir do jornal muito socialista El Sol ele exerceu aquele poderoso talento de iluminar cantos escuros, de olhar o espetáculo do mundo nos bastidores. Até que ele apareceu no palco com sua caneta afiada ou sedosa, carinhosa ou inquieta, dependendo da ocasião.
Hoje quero compartilhar com vocês o Eduardo que fundou a Brecha junto com outros grandes jornalistas, escritores e colunistas como Hugo Alfaro, Carlos María Gutiérrez, Ernesto González Bermejo, Guillermo Waksman. Mario Benedetti, Oscar Bruschera, Héctor Rodríguez, Guillermo Chifflet, José Wainer, Coriún Aharonian, Carlos Núñez e Gabriel Peluffo.
Para aqueles de nós que aderiram poucos meses depois como colaboradores regulares (quase na casa dos trinta), a sensação era a de estar sentados nos degraus do inatingível Olimpo. Todas as sextas-feiras o Conselho Consultivo se reunia com os fundadores. No Uruguai, Eduardo não faltou nenhum treino. Ele chegou na hora certa e saiu entre os últimos. Claro, ele falava pouco, muito pouco, mas ouvia e rabiscava muito.
A biologia, e algumas discrepâncias, provocaram alterações na composição do Conselho, e o último daquela velha guarda que permaneceu presente sempre que esteve no país foi ele. Fê-lo com modéstia, mesmo sendo um Luis Suárez da literatura uruguaia, latino-americana e mundial. Ele era um superastro que tinha prazer em jogar em equipe.
Entre muitas lembranças que tenho dele, escolho vê-lo chegar encharcado de suor numa tarde de verão depois de caminhar pelo calçadão de Buceo até o Centro para entregar seu bilhete daquela semana, ou sua maneira calma de fornecer possíveis ilustrações e sugestões de layout.
Também a ligação irritada ocasional, como todos nós ocasionalmente fazíamos, porque “alguém” havia mudado alguma coisa em seu texto (aconteceu uma ou duas vezes, e até hoje me pergunto quem poderia ter sido). Mas ele ligava muitas vezes para comentar uma história daquela semana, sempre para elogiar, nunca para criticar. Acredite, foi assim.
Ele prestigiava o semanário sem exigir privilégios, e nós o fizemos jogar dentro da pequena área, obviamente.
Mas não nos cruzamos apenas em Brecha: ele participou regularmente de alguns protestos de rua, por exemplo, em protesto contra a instalação da primeira fábrica de celulose da UPM em Fray Bentos. Lembro-me particularmente de uma noite de inverno na Plaza Libertad, onde participou do comício na companhia de sua esposa Helena. Alguém da organização entregou-lhe um microfone, sem roteiro, sem plataforma, e Eduardo, com poucas e duras palavras, apelou ao governo do então presidente Tabaré Vázquez, socialista como ele, para rever o projeto.
Acima de tudo, Eduardo foi um militante pela vida, pela beleza, pelas letras, pela justiça social e económica, pela justiça humana e divina e pela liberdade. Ele era um irmão do nosso povo.
Querido Eduardo: aqui continuamos na sua brecha, nos aquecendo ao redor da sua chama. Muito obrigado, obrigado por tudo. Feliz aniversário!
Carlos Amorim
: Integrou a equipe da Brecha como jornalista, editor e editor-chefe por quase 18 anos. Foi membro do Conselho Editorial por seis anos. fonte:
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