Estados Unidos em chamas

Resumo em português de uma aula do professor chinês Jiang Xueqin:

A Transformação Econômica dos EUA: De Potência Industrial a Economia Financeirizada

Entre 1950 e 1980, os EUA eram uma potência manufatureira:

  • 40% do PIB e 40% dos lucros vinham da indústria;
  • 30% da força de trabalho empregava-se em fábricas.

Esse período gerou a classe média mais próspera da história: trabalhadores tinham emprego estável, seguro saúde, casa própria, aposentadoria digna e acesso a educação e lazer. A vida média superava a de elites em outros continentes.

A partir dos anos 1980, a Revolução Reagan e o neoliberalismo promoveram uma guinada radical:

  • Serviços financeiros passaram a representar 22% do PIB e 40% dos lucros;
  • A manufatura encolheu para 10% do PIB;
  • Apenas 5% dos trabalhadores estão nesse setor hoje.

Consequências Sociais e Políticas

Essa financeirização trouxe impactos profundos:

  1. Poder político deslocado: A influência migrou dos sindicatos operários para Wall Street e a elite profissional (gestores de costa a costa, formados em universidades de elite);
  2. Fuga de cérebros: Talentos de áreas como IA e estatística são atraídos para especulação financeira, não para produção ou inovação;
  3. Instabilidade crônica: Bolhas especulativas (como as crises de 2001 e 2008) e falências bancárias recorrentes;
  4. Desigualdade extrema: O 1% mais rico concentra riqueza, reduzindo a mobilidade social;
  5. Economia rentista: Jovens preferem apostar em criptomoedas a buscar empregos produtivos.

O Império como Causa Raiz

Por que essa transição ocorreu? A resposta está no status imperial dos EUA pós-Guerra Fria. Em 1991, com a queda da URSS, os EUA estabeleceram as regras globais:

  • dólar tornou-se a moeda-reserva mundial, inicialmente lastreado em ouro (1944, Bretton Woods);
  • Em 1971, Nixon abandonou o padrão-ouro, substituindo-o pelo petrodólar (commodity lastreada no petróleo).

Sob essa hegemonia, o comércio global foi redirecionado:

  • Países como China produziam bens baratos;
  • EUA exportavam tecnologia.

Mas o modelo falhou:

  • Riqueza não se distribuiu: Houve “captura por elites” locais;
  • Capitais migraram para os EUA como “porto seguro”, não para onde gerariam maior crescimento.

Prova disso? O mercado acionário:

  • Em 1900: Reino Unido (25%), EUA (14,5%);
  • Em 2024: EUA (60%), Japão (6%), China (3%).

A Bomba-Relógio: Dívida e Declínio

A dívida americana (US$ 34 trilhões, metade em mãos estrangeiras) é insustentável. Os juros consomem trilhões trimestralmente, e a dependência de “dinheiro fácil” inviabiliza a reindustrialização. Aqui surge o dilema imperial:

  1. Rússia na Ucrânia desafiou a aura de invencibilidade dos EUA;
  2. Rebeliões no Sahel e o ataque do Hamas refletem essa percepção de fragilidade.

Por que o Irã? A Lógica do Desespero

Invadir o Irã seria uma jogada para:

  1. Restaurar a confiança no poderio militar americano;
  2. Controlar 40% do petróleo global (Irã é o 4º maior exportador);
  3. Dominar rotas marítimas estratégicas.

Porém, é um tiro no pé:

  • Uma derrota aceleraria o colapso do dólar;
  • Vitórias imperiais alimentam arrogância, e impérios raramente preveem seu próprio fim.

Conclusão: O Fim de uma Era?

A economia financeirizada e a dependência de dívida criaram um ciclo vicioso. Sem capacidade de reindustrialização ou vitória na Ucrânia, uma guerra contra o Irã parece o caminho mais “fácil” para Washington. Mas em um mundo multipolar, essa aposta pode ser o último ato de um império que trocou produção por especulação — e agora colhe os frutos da sua própria hubris.

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