Líderes indígenas Yanomami na Amazônia brasileira culpam garimpeiros ilegais por uma crise de saúde e aumento da violência.
O Brasil lançou ataques contra garimpeiros ilegais acusados de uma crise humanitária na maior reserva indígena do país, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu defender o povo Yanomami após anos de negligência e violência crescente.
As agências ambientais e indígenas brasileiras disseram na quarta-feira que agentes do governo estavam realizando a operação, que começou no início desta semana.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse em comunicado que agentes destruíram um helicóptero, um avião, uma escavadeira e estruturas de apoio aos garimpeiros em terras Yanomami, no estado de Roraima, no extremo norte do Brasil.
Também foram apreendidas duas armas e três barcos com cerca de 5.000 litros (1.320 galões) de combustível.
Durante anos, líderes indígenas Yanomami disseram que a expansão da mineração ilegal em seus territórios estava causando degradação ambiental generalizada, bem como aumento de ameaças, violência e doenças.
No ano passado, a Associação Hutukara Yanomami informou que a área marcada pelo “garimpo” – ou mineração de ouro selvagem – na reserva Yanomami aumentou 46% em 2021, para 3.272 hectares (8.085 acres).
“Este é o pior momento de invasão desde que a reserva foi estabelecida há 30 anos”, disse o grupo de direitos indígenas em um relatório de abril de 2022, baseado em imagens de satélite e entrevistas com moradores locais.
Acredita-se que mais de 20.000 garimpeiros ocuparam a vasta reserva, que tem o tamanho de Portugal e se estende pelos estados de Roraima e Amazonas, no canto noroeste da Amazônia brasileira.
O ex-presidente de extrema-direita do país, Jair Bolsonaro, promoveu maior desenvolvimento na Amazônia, enquanto seu governo enfraqueceu as agências brasileiras de proteção ambiental e de direitos indígenas.
Os Yanomami, estimados em aproximadamente 28.000 pessoas, disseram que as políticas de Bolsonaro ajudaram a aumentar as ameaças contra eles.
Na quarta-feira, o IBAMA disse que um posto de controle foi instalado próximo a uma aldeia Yanomami no rio Uraricoera para interromper a cadeia de abastecimento dos garimpeiros.
Os agentes apreenderam os barcos de 12 metros (39 pés), carregados com uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet, que agora abastecerão os agentes federais. Não será permitido que mais barcos que transportem combustível e equipamentos ultrapassem o bloqueio.
Acredita-se que alguns dos garimpeiros tenham fugido da reserva Yanomami antes do início da operação e cruzado a fronteira com os vizinhos Guiana Francesa, Suriname e Guiana.
O governo federal declarou emergência de saúde pública para o povo Yanomami, que sofre de desnutrição e doenças como a malária em consequência do garimpo ilegal. A caça tornou-se escassa e a água dos rios foi poluída pelo mercúrio usado pelos garimpeiros
Um relatório publicado na terça-feira pelo Ministério da Saúde constatou que garimpeiros invadiram quatro clínicas dentro do território Yanomami, deixando-as inoperantes.
Na cidade de Boa Vista, onde indígenas famintos e doentes foram levados de avião para um centro médico temporário, vivem 700 Yanomami, mais de três vezes a capacidade do local.
“A crise de desnutrição continua extremamente grave. Acreditamos que a reabertura das unidades médicas só será possível quando todos os garimpeiros forem removidos”, disse o secretário de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba, em entrevista coletiva.
Ainda na terça-feira, o presidente Lula disse no Twitter que seu governo não permitiria o garimpo ilegal em terras indígenas, o que levou os Yanomamis a uma situação “degradante”. “Também precisamos descobrir quem é o responsável pelo que aconteceu”, disse ele.
Fonte: www.aljazeera.com