Especialistas dizem que a queda de janeiro é “positiva”, mas alertam que é muito cedo para dizer se isso marca uma reversão de longo prazo.

O desmatamento na seção brasileira da floresta amazônica caiu 61% em janeiro, o primeiro mês de mandato do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu relançar os esforços de proteção ambiental.

Dados preliminares de satélite coletados pela agência governamental de pesquisa espacial Inpe e divulgados na sexta-feira mostraram 167 quilômetros quadrados (64 milhas quadradas) limpos na região no mês passado, abaixo dos 430 quilômetros quadrados (166 milhas quadradas) perdidos em janeiro de 2022.

Mas especialistas alertaram que, embora a redução seja um bom sinal, ainda é muito cedo para dizer que o desmatamento, que aumentou sob o governo do antecessor de Lula, o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, foi revertido.

“É positivo ver uma queda tão relevante em janeiro”, disse Daniel Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil. “No entanto, ainda é muito cedo para falar em reversão de tendência, pois parte dessa queda pode estar relacionada a uma maior cobertura de nuvens.”

O WWF-Brasil também apontou que o pico do desmatamento costuma ocorrer na estação seca, a partir de junho.

“Os planos de ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas devem ser reestruturados com urgência para que o Brasil reencontre seu papel de líder ambiental internacional”, disse Frederico Machado, outro especialista do grupo.

O desmatamento aumentou dramaticamente sob Bolsonaro, que foi derrotado por Lula nas eleições de outubro e promoveu mais mineração e desenvolvimento econômico na extensa região amazônica do Brasil.

Grupos de direitos indígenas e ambientais culparam as políticas do governo Bolsonaro pelo aumento do desmatamento e das atividades ilícitas na Amazônia, incluindo a mineração ilegal de ouro, bem como pelo aumento da violência contra as comunidades indígenas na área.

Os novos dados do desmatamento vieram quando Lula, que já foi presidente do Brasil de 2003 a 2010, deveria se encontrar com seu colega dos Estados Unidos, o presidente Joe Biden, em Washington, DC, ainda na sexta-feira.

Espera-se que os dois líderes discutam o apoio à democracia, bem como os esforços para combater as mudanças climáticas, entre outros assuntos. Lula prometeu reduzir a zero o desmatamento na floresta amazônica, cerca de dois terços dela no Brasil.

Na véspera das negociações, a agência de notícias Reuters informou que os EUA estudam sua primeira contribuição para um fundo multilateral voltado para o combate ao desmatamento na Amazônia, com possível anúncio durante a reunião Biden-Lula.

O Fundo Amazônia administrado pelo Brasil, apoiado principalmente pela Noruega e Alemanha, foi reativado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no dia em que ela assumiu o cargo no mês passado, depois de estar congelada desde 2019 sob o governo de Bolsonaro.

Troncos carbonizados são vistos em uma área de terra amazônica queimada por madeireiros e fazendeiros, em Porto Velho, Brasil, 23 de agosto de 2019 [File: Ueslei Marcelino/Reuters]

No final de janeiro, a ministra do Desenvolvimento alemã, Svenja Schulze, anunciou que Berlim disponibilizaria US$ 38 milhões para o Fundo Amazônia, dizendo que o governo Lula oferecia “uma grande chance de proteger a floresta e oferecer uma nova perspectiva para as pessoas que vivem lá”.

A Alemanha também prometeu fornecer US$ 87 milhões em empréstimos a juros baixos para agricultores restaurarem áreas degradadas e US$ 34 milhões para os estados brasileiros na região amazônica protegerem a floresta tropical.

No entanto, mesmo com o início de ano positivo, especialistas e funcionários da agência ambiental do Brasil, Ibama, alertaram que pode levar anos para Lula cumprir as metas de conservação depois que Bolsonaro cortou fundos e funcionários em agências importantes.

Ainda assim, o novo governo brasileiro já deu alguns passos em seu esforço para reverter a degradação ambiental na Amazônia.

No início desta semana, as autoridades lançaram operações para remover garimpeiros ilegais de territórios indígenas na região, onde foram responsabilizados por ataques violentos e uma crise de saúde que afeta o povo Yanomami.

Fonte: www.aljazeera.com

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