O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva também reiterou os apelos por uma paz negociada entre a Rússia e a Ucrânia.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva denunciou a “violação da integridade territorial da Ucrânia” depois de enfrentar críticas por comentários que fez no fim de semana sobre a invasão russa do país.
O líder de esquerda, no entanto, dobrou seu apelo à mediação no conflito, que começou em fevereiro de 2022.
“Enquanto meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito”, disse Lula em discurso após seu encontro com o presidente romeno, Klaus Iohannis.
O dirigente brasileiro explicou que manifestou “preocupação” a Iohannis com as “consequências globais” da guerra “em termos de segurança alimentar e energética, sobretudo nas regiões mais pobres do planeta”.
O Brasil se posicionou como um defensor da paz em meio à guerra na Ucrânia, que feriu ou matou até 22.209 civis até 20 de março, confirmou a ONU, embora observe que o número real pode ser “consideravelmente maior”.
Mas no fim de semana, Lula inflamou as relações internacionais com comentários que pareciam culpar a Ucrânia por sua participação na guerra, dizendo que ela foi causada por “decisões tomadas por dois países”.
Ele também criticou os Estados Unidos e a Europa por “contribuírem” para as hostilidades ao fornecer armas à Ucrânia. Lula explicou que espera formar um “grupo de países que não tem nada a ver com guerra, que não quer guerra” para liderar as negociações entre Rússia e Ucrânia.
Os comentários do presidente brasileiro – seguidos de uma visita na segunda-feira do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov – provocaram protestos da Ucrânia, dos Estados Unidos e de seus aliados.
Em uma postagem no Facebook na terça-feira, Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, convocou Lula a visitar o país devastado pela guerra “para entender as verdadeiras causas e a essência da agressão russa e suas consequências para a segurança global”.
“A Ucrânia está observando com interesse os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para acabar com a guerra”, escreveu Nikolenko. “Ao mesmo tempo, uma abordagem que coloca a vítima e o agressor na mesma escala” não “corresponde à realidade”.
Em uma coletiva de imprensa no final do dia, o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também rejeitou os comentários de Lula, ecoando críticas anteriores do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, de que o Brasil estava “papagaiando” a propaganda russa.
“Os Estados Unidos – e vocês já nos ouviram dizer isso muitas vezes – não têm objeções a qualquer país que tente pôr fim à guerra da Rússia contra a Ucrânia”, disse a repórteres a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, acrescentando que ela continua “confiante na força da relação EUA-Brasil”.
Mas Jean-Pierre enfatizou que a guerra na Ucrânia foi uma guerra iniciada pela Rússia, “uma guerra de sua escolha”. E rejeitou as alegações “sugerindo que os Estados Unidos e a Europa não estavam interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra”.
O “tom” das declarações de Lula, disse Jean-Pierre, “não foi neutro e não é verdade. E assim continuaremos a nos manifestar contra isso”.
Lula pediu anteriormente que a Rússia se retirasse do território que invadiu desde a invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, mas também sugeriu que a Ucrânia poderia retirar sua reivindicação sobre a Crimeia, uma península no Mar Negro que Moscou invadiu e anexou em 2014 .
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, recusou tal proposta.
Na segunda-feira, o assessor de política externa de Lula, Celso Amorim, disse ao jornal Globo que o presidente brasileiro nunca teve a intenção de “ofender” ninguém. Ele também disse que o Brasil não compartilha da perspectiva da Rússia sobre a guerra, nem espera “derrotar” a Rússia.
“O Brasil defende a integridade territorial da Ucrânia”, explicou Amorim. Mas ele reiterou apelos por uma paz negociada: “Enquanto não houver negociações, a paz ideal para ucranianos e russos não acontecerá. Deve haver concessões.”
Fonte: www.aljazeera.com