A cúpula destaca a virada para a esquerda da região e espera-se que enfatize a cooperação em questões como finanças e crime.
Líderes e representantes de 12 países sul-americanos se reuniram no Brasil para uma cúpula na terça-feira, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta reviver o bloco regional anteriormente conhecido como União das Nações Sul-Americanas, ou Unasul.
Espera-se que o presidente Lula pressione por uma maior integração regional na cúpula, realizada na capital Brasília.
“Deixamos que a ideologia nos divida e interrompa nossos esforços de integração. Abandonamos nossos canais de diálogo e nossos mecanismos de cooperação e todos perdemos por causa disso”, disse Lula na terça-feira.
Em seu discurso, Lula promoveu a ideia de criar uma moeda comercial regional, que pudesse rivalizar com o predomínio do dólar norte-americano.
A reunião ressalta a mudança do clima político na América do Sul, onde as forças políticas de esquerda experimentaram um ressurgimento após anos de governo amplamente conservador.
Lula e outros líderes esquerdistas fundaram a Unasul – anunciando sua intenção em 2004 e assinando um tratado em 2008 – mas a organização se reuniu pela última vez há nove anos, acabando por se fragmentar quando a região se moveu para a direita.
Hoje os 12 países da América do Sul se encontram, o que não acontecia há quase 10 anos. Todas as regiões do mundo possuem fóruns comuns. Vamos avançar, com respeito às diferenças e à soberania.
🇦🇷@alferdez 🇧🇴@LuchoXBolivia 🇨🇱@GabrielBoric 🇨🇴@petrogustavo📸: @ricardostuckert pic.twitter.com/7nIWhaH4Md
— Lula (@LulaOficial) 30 de maio de 2023
A cúpula de terça-feira ocorreu a portas fechadas, mas outros tópicos esperados de discussão incluem energia, finanças, crime e combate às mudanças climáticas.
“Esta é a primeira reunião que eles têm em nove anos, e isso é muito, muito tempo”, disse Lucia Newman, da Al Jazeera, em entrevista à TV de Brasília. “E a essência disso tudo é tentar encontrar uma maneira de recuperar o que antes parecia estar no roteiro aqui na região e isso é … a integração sul-americana.”
Em outro sinal da virada para a esquerda na região, o presidente venezuelano Nicolás Maduro foi recebido calorosamente por Lula, apenas alguns anos depois de ter sido proibido de entrar no Brasil pelo antecessor de direita de Lula, Jair Bolsonaro. Sob a administração de Bolsonaro, o Brasil apoiou a tentativa malsucedida do líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, de reivindicar a presidência da Venezuela.
A aceitação de Maduro por Lula tem sido controversa, com críticos acusando-o de fechar os olhos ao histórico da Venezuela de prender membros da oposição e alegações de fraude eleitoral.
Em 2018, por exemplo, a Colômbia se retirou da UNASUL depois que o ex-presidente de direita do país, Ivan Duque, acusou o grupo de cumplicidade na “ditadura venezuelana”.
O sucessor de Duque, o presidente esquerdista Gustavo Petro, desde então agiu para aliviar as tensões com a Venezuela após anos de hostilidade, buscando áreas de interesses comuns, como a cooperação na segurança da fronteira.
Perguntas sobre o histórico de direitos humanos da Venezuela, no entanto, ressurgiram na reunião de terça-feira. Líderes como o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, contestaram a afirmação de Lula de que as críticas à Venezuela eram simplesmente uma “narrativa” destinada a pintar o país como antidemocrático.
“Fiquei surpreso quando você diz que o que aconteceu na Venezuela é uma narrativa. Você já sabe o que pensamos da Venezuela e do governo venezuelano”, disse Lacalle Pou a Lula em comentários compartilhados no Instagram Live.
Enquanto isso, Temir Porras – um ex-assessor de política externa do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, que ajudou a fundar a Unasul – disse à Al Jazeera em uma entrevista na TV que a cúpula é um passo positivo.
“Acho uma ótima iniciativa do presidente Lula da Silva”, disse. “A integração sul-americana provavelmente não é possível sem a participação do Brasil. O Brasil é o maior país da região, é a principal economia e é uma potência diplomática global.”
No entanto, disse ele, a integração terá de resultar em benefícios tangíveis para que a organização evite a fragmentação se o cenário político do continente mudar mais uma vez.
“Desta vez, a lição a ser aprendida é que essa integração precisa ser pragmática. Tem que ser prático. Tem que se traduzir em benefícios para a maioria da população sul-americana para durar”, disse Porras.
Fonte: www.aljazeera.com