Polícia apreende documento e prende vários aliados do ex-líder de extrema direita em investigação de tentativa de golpe.
A polícia confiscou o passaporte do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e acusou-o de editar um projeto de decreto para anular os resultados eleitorais, de pressionar chefes militares a aderirem a uma tentativa de golpe e de conspirar para prender um juiz do Supremo Tribunal.
A operação de quinta-feira incluiu mandados de busca contra quatro ex-ministros e a prisão de vários ex-assessores. O círculo íntimo de Bolsonaro está sob investigação por supostamente planejar um golpe militar após sua derrota eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
O ex-líder, um populista de extrema direita frequentemente comparado ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, estava em sua casa de praia no estado do Rio de Janeiro quando a polícia chegou na manhã de quinta-feira, exigindo o passaporte.
A Polícia Federal do Brasil está agora em posse do documento, que estava na capital Brasília, disse o porta-voz da família Bolsonaro, Fabio Wajngarten, nas redes sociais.
De acordo com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes que desencadeou a operação de quinta-feira, Bolsonaro, em novembro de 2022, recebeu um projeto de decreto elaborado por seus assessores para anular o resultado eleitoral e emitir mandados de prisão para Moraes, o colega ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e o líder do Senado Rodrigo Pacheco.
A pedido de Bolsonaro, o projeto de decreto foi modificado, mas a prisão de Moraes e a exigência de novas eleições permaneceram, dizia a ordem judicial, citando investigações policiais.
Depois de ajustar o decreto, Bolsonaro convocou comandantes militares e pressionou-os a apoiar um golpe, segundo o relato da polícia, com base em registros telefônicos e depoimentos de delação premiada do ex-ajudante de campo do ex-presidente.
“Saí do governo há mais de um ano e ainda sofro uma perseguição implacável”, disse Bolsonaro ao jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira. “Esqueça-me. Outra pessoa está governando o país agora.”
‘Uma organização criminosa’
Bolsonaro já foi considerado politicamente inelegível até 2030 por espalhar falsidades eleitorais e enfrenta várias outras investigações criminais que podem levá-lo à prisão. Ele negou qualquer irregularidade e considera as investigações com motivação política.
Na semana passada, a Polícia Federal fez buscas em propriedades ligadas ao filho dele, Carlos Bolsonaro, sob suspeita de que ele usasse dados coletados ilegalmente pela agência de espionagem Abin para atacar rivais de seu pai. Ele negou qualquer irregularidade.
A operação de quinta-feira teve como alvo alguns dos aliados mais próximos de Bolsonaro – até recentemente entre os homens mais poderosos do Brasil.
Foram expedidos mandados de busca em imóveis ligados a Walter Braga Netto, ex-companheiro de chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, seu ex-assessor de segurança nacional; o ex-ministro da Defesa Paulo Nogueira Batista e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, entre outros.
Três pessoas foram presas até agora na operação, segundo relatos da mídia brasileira: dois oficiais do Exército e um ex-assessor de assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins.
A Polícia Federal afirmou em comunicado que os suspeitos foram acusados de participar de “uma organização criminosa que atuou em uma tentativa de golpe de estado” que visava “manter o então presidente da República no poder”.
Eles estavam espalhando alegações de fraude eleitoral “mesmo antes da realização das eleições” para “legitimar uma intervenção militar”, afirmou o comunicado.
Lula disse que a tentativa de golpe precisa ser investigada para evitar que aconteça novamente.
“Sem Bolsonaro não teria havido tentativa de golpe”, disse Lula em entrevista à rádio.
Fonte: www.aljazeera.com