Yanomami leader, shaman Davi Kopenawa, participates in the Salgueiro Samba School’s parade in the Sapucaí Sambadrome. Credit: David Normando/Rio Carnival
O xamã Davi Kopenawa diz: “A homenagem do Salgueiro aos Yanomami está entrando para a história do povo – da floresta e da cidade”.
Em conversa com o site Brasil de Fato (O verdadeiro Brasil), Davi Kopenawa, principal liderança da Terra Yanomami, comemorou no mês passado sua primeira experiência participando do desfile da Escola de Samba Salgueiro no carnaval carioca de 2024.
“Para todos aqueles que querem saber o que penso [after the parade], falo com amor, falo com amor. Amo a Terra, amo minha Amazônia”, declarou o coordenador da Associação Hutukara Yanomami.
Ele falou com emoção da felicidade que sentiu ao passar pelo desfile da Sapucaí em cima de um carro alegórico temático ao lado de seus “guerreiros”. Além disso, o líder reiterou a sua exigência para que os garimpeiros ilegais abandonassem o território.
“[The parade] estava muito bom, muito bom, muito forte, saudável e alegre. Essa é a história que estamos trazendo para o Rio de Janeiro. Isso é histórico e vai ficar nas nossas futuras gerações Yanomami e nas futuras gerações da população da cidade”, afirmou.
No sábado, 17 de fevereiro, o Salgueiro voltou à Sapucaí para o Desfile dos Campeões, a partir das 22h. A escola de samba, que neste ano ficou em terceiro lugar, seguirá os primeiros e segundos colocados Vila Isabel e Portela.
“Nós‘ainda estamos vivos!
Este ano, Salgueiro trouxe para a avenida um samba que celebra a batalha do povo Yanomami no enfrentamento de uma crise humanitária causada pelo garimpo ilegal.
Intitulado “Hutukara”, o samba-tema utiliza palavras da língua Yanomami e foi construído em parceria com lideranças do território, incluindo Kopenawa. O xamã pediu à escola de samba que os retratasse não apenas como vítimas, mas como um povo guerreiro.
“Salgueiro nos chamou de pessoas que estão travando uma batalha pelo bem da terra, da água, pelo bem dos povos indígenas do Brasil. Estamos lutando por quem mora na cidade e defende a natureza. Foi maravilhoso”, declarou Kopenawa.
Entre as letras mais importantes da música tema, que também lembrou o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, estava a frase “Ya Temi Xoá” (“Ainda estou vivo”) na língua Yanomami.
Davi Kopenawa elogiou a letra: “Foi muito bom que quem cantava e dançava aprendesse a cantar ‘Ya Temi Xoá’. Isso é muito importante para quem vai se comprometer com a nossa causa e crescer conosco.”
“Elesinerte continue vindo”
Por outro lado, Kopenawa manifestou sua indignação com a contínua invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. Ele pediu a atuação do governo federal, do estado de Roraima e dos compradores de ouro.
“Este é o meu aviso. Continuo a falar dos invasores: a prospecção ilegal tem que acabar. Realmente tem que parar, não é só falar e falar. A verdade tem que ser dita, não se pode continuar contando mentiras. Você não pode simplesmente prometer que os garimpeiros irão embora. Eu não acredito nisso. É só conversa. Nada acontece.”
Desde o início de 2023, o governo federal conduz uma operação integrada para expulsar os garimpeiros, que invadiram o território aos milhares durante o governo de Jair Bolsonaro. A maioria dos mineiros partiu mas, sem o encerramento do espaço aéreo, os aviões continuam a transportar ouro, alimentos e maquinaria para os garimpeiros ilegais.
“O ouro é o sangue do meu povo, o sangue dos meus filhos, o sangue do planeta Terra, da água”, enfatizou Kopenawa em discurso ao Brasil de Fato.
A conversa de Davi Kopenawa com o Brasil de Fato foi editada por Rodrigo Durão Coelho e traduzida para People’s World por Peter Lownds.
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Fonte: www.peoplesworld.org