Mariana Tsichli
Como Unidade Popular, sempre achamos necessário construir convergências mais amplas entre as forças da esquerda radical. O atual estado de fragmentação não ajuda ninguém e, sobretudo, não ajuda o movimento operário, a juventude e as classes populares na Grécia. Tal convergência precisa ter um conteúdo claro, o que pressupõe um acordo sobre pontos básicos, ainda que os compromissos sejam inevitáveis. Nos movimentos sociais, nas mobilizações, há muito mais espaço para a união entre as mais diversas forças. Mas as alianças no nível político dependem de condições programáticas específicas.
Um ponto chave para nós foi o deslocamento de Varoufakis e MeRA25 para a esquerda em algumas de suas posições básicas. No seu último congresso, o MeRA25 concluiu que não pode haver alternativa de esquerda no quadro da Zona Euro e que é necessária uma ruptura. Isso representa uma mudança significativa em relação à sua posição anterior, que apoiou as negociações dentro da zona do euro para reorientá-la em uma direção diferente.
O mesmo se aplica às relações da Grécia com a OTAN, onde também há uma clara mudança para o descompromisso e a favor de uma política externa multidimensional e não alinhada. Este processo nos possibilitou uma discussão programática com o MeRA25. Seu esforço de intervenção nos movimentos sociais também surtiu efeito, assim como sua consistente postura oposicionista no parlamento, onde seus deputados deram voz a importantes demandas dos movimentos.
Temos que reconhecer o contexto após quatro anos de um governo autoritário combinando o extremo centro neoliberal com a extrema direita. Não podemos ficar indiferentes ao resultado das eleições: é fundamental evitar outro mandato para tal governo.
Mas é igualmente importante ter uma alternativa à lógica do “mal menor” que leva ao voto no Syriza. É por isso que um nível de convergência programática dentro da esquerda radical é crucial. Isso também se aplica ao debate que está ocorrendo atualmente sobre um possível “governo progressista” proposto pelo partido de Tsípras, no fundo uma coalizão entre Syriza e Pasok. Mas o Syriza também está pedindo às outras forças de esquerda que apoiem – ou pelo menos não se oponham no parlamento – à implementação de políticas neoliberais sob um disfarce “progressista”.
Tal movimento seria desastroso para toda a esquerda. Um governo liderado pelo Syriza não pode nem ser visto como um “mal menor”, porque suas políticas em questões-chave seriam semelhantes às atuais. Não temos motivos para manchar mais uma vez a credibilidade da esquerda, que lutamos há oito anos para reconstruir. Seria tolice aceitar uma proposta que leva o cenário político para uma direção conservadora e afasta as pessoas da política.
Isso não significa que Syriza e Mitsotakis sejam idênticos ou que não devamos lutar para impedir que a Nova Democracia alcance a maioria. É por isso que acreditamos que as forças de esquerda radical, como MeRA25-Alliance for Rupture, devem ter a representação mais forte possível no parlamento. Sob o novo sistema eleitoral, alcançar a maioria parlamentar não depende da diferença entre os partidos em primeiro e segundo lugar no voto popular, mas em quantos partidos ultrapassam o limite de 3% para entrar no parlamento. Portanto, o sucesso de nossa coalizão tem um significado mais amplo para o equilíbrio geral de forças. Também é crucial para o fortalecimento de um polo combativo e não sectário da esquerda, o mais importante a longo prazo.
Fonte: https://jacobin.com/2023/05/greece-radical-left-syriza-election-austerity-mera25-alliance-for-rupture