Os críticos do naufrágio planejado pelo Brasil do porta-aviões São Paulo desativado o descreveram como um “crime ambiental patrocinado pelo Estado”.
O Brasil afundou um porta-aviões desativado no Oceano Atlântico, apesar das preocupações expressas por grupos ambientalistas de que o antigo navio de guerra estava cheio de materiais tóxicos.
O “naufrágio planejado e controlado ocorreu no final da tarde” na sexta-feira, a cerca de 350 km (220 milhas) da costa brasileira no Oceano Atlântico, em uma área com “profundidade aproximada de 5.000 metros [16,000 feet]”, disse a Marinha do Brasil em comunicado.
A decisão de afundar o porta-aviões “São Paulo”, de seis décadas, veio depois que as autoridades brasileiras tentaram em vão encontrar um porto disposto a receber a embarcação.
Embora as autoridades de defesa tenham dito que afundariam o navio na “área mais segura”, os ambientalistas atacaram a decisão, dizendo que o navio de guerra continha toneladas de amianto, metais pesados e outros materiais tóxicos que poderiam penetrar na água e poluir a cadeia alimentar marinha.
A Basel Action Network pediu ao recém-eleito presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – que assumiu o cargo no mês passado prometendo reverter a crescente destruição ambiental sob o ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro – para interromper imediatamente o plano “perigoso” de acabar com o enviar.
A ONG Shipbreaking Platform – uma coalizão de organizações ambientais, trabalhistas e de direitos humanos – descreveu o planejado naufrágio do São Paulo como potencialmente um “crime ambiental patrocinado pelo Estado”.
Afundar intencionalmente o porta-aviões tóxico São Paulo equivaleria a um crime ambiental patrocinado pelo estado. https://t.co/efiH9KLVSI
— ONG Shipbreaking Platform (@NGOShipbreaking) 21 de janeiro de 2023
Construído no final dos anos 1950 na França, cuja marinha navegou no porta-aviões por 37 anos como Foch, o navio de guerra conquistou um lugar na história naval do século XX. O São Paulo participou dos primeiros testes nucleares da França no Pacífico na década de 1960 e teve implantações na África, Oriente Médio e na ex-Iugoslávia das décadas de 1970 a 1990.
O Brasil comprou o porta-aviões de 266 metros (873 pés) por US$ 12 milhões em 2000. Um incêndio ocorrido a bordo do navio em 2005 acelerou o declínio da embarcação.
No ano passado, o Brasil autorizou a empresa turca Sok Denizcilik a desmantelar a São Paulo para sucata. Mas em agosto, quando um rebocador estava prestes a rebocá-lo para o mar Mediterrâneo, as autoridades ambientais turcas bloquearam o plano.
O Ministério da Defesa do Brasil disse em comunicado na quarta-feira que o plano de desmantelamento do navio “representou uma tentativa sem precedentes” do Brasil de descartar o navio com segurança por meio de “reciclagem ambientalmente correta”.
O Brasil então trouxe o porta-aviões de volta para casa, mas não o permitiu no porto, citando o “alto risco” para o meio ambiente.
De acordo com o comunicado do Ministério da Defesa, a área selecionada para o naufrágio foi identificada pelo Centro de Hidrografia da Marinha, que considerou o local “mais seguro” por estar fora da zona econômica exclusiva do Brasil, áreas de proteção ambiental, livre de cabos submarinos documentados e em uma profundidade superior a 3.000 metros (9.840 pés).
“Tendo em conta os factos apresentados e o risco acrescido do reboque, devido à deterioração das condições de flutuabilidade do casco e à inevitabilidade do naufrágio espontâneo/descontrolado, não é possível adoptar outra medida que não seja o alijamento do casco, através do naufrágio planejado e controlado”, disse o ministério.
Fonte: www.aljazeera.com