O ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro afrouxou as restrições à compra de armas e incentivou o porte de armas.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva decidiu restringir o acesso a armas de fogo, buscando reverter uma tendência de proliferação do porte de armas sob seu antecessor Jair Bolsonaro.
Lula assinou um decreto na sexta-feira restringindo o acesso a armas, reduzindo o número de armas de fogo que um civil pode possuir de quatro para duas. Os novos regulamentos também exigem documentação que afirme a necessidade de empunhar a arma e diminua a quantidade de munição que uma pessoa pode ter por arma.
“Uma coisa é o cidadão comum ter uma arma em casa para sua proteção, como garantia, porque algumas pessoas acham que isso é segurança. Deixe-os tê-lo. Mas não podemos permitir que os arsenais de armas fiquem nas mãos do povo”, disse o presidente durante a cerimônia de assinatura.
A posse de armas disparou no Brasil durante o mandato de Bolsonaro, durante o qual as restrições foram afrouxadas e a compra de armas de fogo incentivada. Os fabricantes de armas também viram sua influência crescer, especialmente na esfera política conservadora.
Embora as taxas mais altas de posse de armas de fogo estejam ligadas ao aumento da violência armada, o aumento no Brasil nos últimos anos não resultou em um aumento na taxa de crimes violentos no país.
Na quinta-feira, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma organização de rastreamento de crimes, divulgou um relatório que constatou que os homicídios atingiram o ponto mais baixo em uma década.
O grupo descobriu que 47.500 pessoas foram mortas em crimes violentos no ano passado, a taxa mais baixa desde 2011 e uma queda de 2,4% em relação a 2021.
Vários fatores podem contribuir para diminuir as tendências do crime, e os criminologistas duvidam que o aumento das taxas de posse de armas seja responsável pela queda na taxa de homicídios do país.
Além disso, o percentual de homicídios cometidos com arma de fogo continua maior no Brasil do que em outros países. As lesões por arma de fogo representaram 77% dos homicídios no Brasil em 2022, em comparação com a média mundial de 44%. A posse de armas no país quase triplicou de 2018 a 2022.
“Embora os homicídios não tenham aumentado, o percentual de mortes por armas de fogo no Brasil ainda é muito alto”, disse Carolina Ricardo, diretora do Instituto Sou da Paz, organização sem fins lucrativos que monitora a segurança pública, à Associated Press.
Ela credita políticas de segurança pública e programas sociais que ajudam a manter as crianças na escola ajudando a manter baixas as taxas de homicídio.
Samira Bueno, que atua como diretora executiva do fórum de segurança pública, também apontou uma trégua frágil entre várias das maiores gangues criminosas do país como uma razão por trás do declínio de homicídios.
O envelhecimento da população brasileira também pode ser considerado, explicaram os especialistas.
O Instituto Igarapé, outro grupo de pesquisa em segurança pública, aplaudiu as novas regras instituídas pelo presidente Lula na sexta-feira. Chamou as medidas de “mais um passo para recuperar parâmetros responsáveis e segurança jurídica no controle de armas no Brasil”.
Sob as novas restrições, uma licença de arma civil no Brasil é válida por três a cinco anos, em oposição a 10 anos sob Bolsonaro.
O decreto de Lula também fechou uma brecha que permitia que proprietários de armas carregassem armas carregadas para espaços públicos se a pessoa afirmasse que estava indo para um clube de tiro.
“Vamos continuar lutando por um país desarmado”, disse Lula em tweet na sexta-feira. “São as forças de segurança que têm de estar armadas, com responsabilidade.”
Fonte: www.aljazeera.com