As autoridades da capital do Brasil agiram para aumentar a segurança nos prédios do governo que foram saqueados por milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no que o governo denunciou como um ataque “antidemocrático”.

As autoridades do distrito de Brasília disseram na segunda-feira que vão mais do que dobrar o destacamento de segurança na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, áreas onde a presença do governo está concentrada.

A governadora interina do distrito, Celina Leão, também disse a repórteres que um batalhão de polícia militar encarregado da segurança seria aumentado de 248 para 500 membros de forma permanente para “máxima tranquilidade”.

As mudanças ocorrem pouco mais de uma semana depois que os apoiadores de Bolsonaro invadiram o Congresso, o Supremo Tribunal e o palácio presidencial do Brasil em 8 de janeiro em um esforço para contestar o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula e outros líderes do governo brasileiro denunciaram o ataque – no qual manifestantes destruíram obras de arte e quebraram janelas e móveis – como “atos terroristas e vandalismo criminoso e golpista”.

O presidente de esquerda, que tomou posse formalmente em 1º de janeiro, derrotou Bolsonaro por pouco no segundo turno presidencial de outubro, que foi amplamente visto como a eleição mais divisiva da história do país sul-americano.

Meses antes da votação, Bolsonaro alegou falsamente que o sistema de votação eletrônica do Brasil era vulnerável a fraudes generalizadas, alimentando preocupações de que o ex-capitão do exército contestasse os resultados.

Após sua derrota em outubro, Bolsonaro se recusou a ceder e seus apoiadores foram às ruas, erguendo bloqueios e exigindo a anulação do resultado da eleição. Muitos pediram que os militares brasileiros interviessem para devolver o líder de extrema-direita ao poder.

Bolsonaro, que trocou o Brasil pelos Estados Unidos poucos dias antes da posse de Lula, negou as acusações de que ajudou a alimentar o motim em Brasília. Ele twittou após o tumulto que o protesto pacífico faz parte da democracia, mas o vandalismo e a invasão de prédios públicos são “exceções à regra”.

Ainda assim, o Supremo Tribunal do país concordou na sexta-feira em investigar Bolsonaro por possível “instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos que resultaram em vandalismo e violência em Brasília”.

“As figuras públicas que continuarem a conspirar covardemente contra a democracia tentando estabelecer um estado de exceção serão responsabilizadas”, disse o ministro Alexandre de Moraes, que acatou o pedido do Ministério Público Federal para instaurar o inquérito.

Moraes está liderando as investigações sobre o motim, que as autoridades brasileiras disseram que se concentrará não apenas nos que participaram do saque aos prédios do governo, mas também em qualquer pessoa que financiou ou ajudou a realizar os eventos.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Anderson Torres, responsável pela segurança em Brasília durante a invasão de prédios do governo na semana passada, foi preso no sábado em conexão com o ataque à capital.

Embora as acusações contra Torres não estivessem imediatamente disponíveis, Moraes acusou o aliado de Bolsonaro de “conivência” e várias “omissões” que contribuíram para o motim.

Torres voltou ao Brasil no fim de semana para enfrentar as acusações, depois de passar uma temporada no estado norte-americano da Flórida, onde Bolsonaro permanece. O governo brasileiro havia dito que estava preparado para solicitar a extradição de Torres caso ele não se entregasse para o interrogatório.

Encontrando os financiadores

De acordo com a Polícia Federal do Brasil, 1.159 pessoas dos mais de 2.000 supostos manifestantes inicialmente detidos permanecem presos. O Ministério Público, por sua vez, disse que mais de 800 compareceram à audiência inicial de custódia.

A Polícia Federal informou que uma pessoa foi presa na segunda-feira como resultado de uma operação especial batizada de “Ulisses”, que visa rastrear “pessoas investigadas por atos antidemocráticos após o segundo turno das eleições presidenciais” em outubro, “bem como como os atos ocorridos em 8 de janeiro”.

Nenhum detalhe foi fornecido sobre a pessoa presa, disse o departamento. Outros dois mandados de prisão estão foragidos.

Os agentes da Ulisses apreenderam “telefones móveis, computadores e documentos diversos”, disse a polícia em comunicado, bem como provas “capazes de ligar os suspeitos à organização e liderança dos eventos”.

Citando cerca de uma dúzia de policiais e autoridades anti-lavagem de dinheiro, a agência de notícias Reuters também informou na segunda-feira que um sistema de pagamentos administrado pelo governo conhecido como Pix está sendo usado para tentar rastrear os financiadores do motim.

Lançado em novembro de 2020 e administrado pelo Banco Central do Brasil, o Pix é gratuito para pessoas físicas, permitindo que elas transfiram dinheiro instantaneamente para outras pessoas por meio de aplicativos bancários online.

Tornou-se um pilar financeiro fundamental que sustenta o movimento de negação das eleições de Bolsonaro, permitindo que seus apoiadores mais fervorosos financiem meios de comunicação alternativos e manifestações de extrema-direita.

“Temos uma linha de investigação segura e consistente focada em rastrear movimentações financeiras realizadas via Pix”, disse à Reuters um policial federal sênior envolvido na investigação do motim.

“O tempo dos financiadores acabou”, disse o policial, que falou sob condição de anonimato para discutir a investigação em andamento.

As transferências de Pix são cobertas por leis de sigilo bancário, e a polícia só pode acessar o histórico de transações de um suspeito com autorização judicial, disse a Reuters.

O Banco Central do Brasil disse em comunicado que “todas as operações do Pix são rastreáveis”, acrescentando que “sempre trabalha em estreita colaboração com as autoridades competentes na investigação de quaisquer crimes envolvendo o sistema financeiro”.

Enquanto isso, o vice-ministro da Justiça do Brasil, Ricardo Cappelli, disse a repórteres na segunda-feira que os investigadores também estavam tentando determinar se havia algum “profissional” entre os manifestantes, que clamavam por um golpe militar.

Delegado pelo executivo para assumir a segurança em Brasília após a violência, Cappelli citou depoimentos de “homens… com conhecimento do terreno, táticas de combate” entre os manifestantes.

Lula e seu ministro da Justiça disseram que o motim provavelmente não teria acontecido sem ajuda interna, inclusive das forças de segurança.

Fonte: www.aljazeera.com

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