Doze países pediram às nações ricas que cumpram suas obrigações de financiamento climático, no último dia da Cúpula da Amazônia em Belém, Brasil.
O pacto desta quarta-feira, denominado “Unidos por nossas florestas”, reuniu líderes da Amazônia, da Bacia do Congo e do sudeste da Ásia, três regiões com algumas das mais extensas florestas tropicais do mundo.
A declaração conjunta pedia o desenvolvimento de um mecanismo de financiamento para que a comunidade internacional pudesse pagar pelos serviços críticos prestados pelas florestas.
“Nossos países devem exercer mais influência sobre a gestão dos recursos alocados para a conservação e uso sustentável da biodiversidade”, disse o pacto sobre as nações em desenvolvimento.
Também exortou as nações desenvolvidas a cumprir um compromisso existente de fornecer US$ 200 bilhões por ano para a preservação da biodiversidade e expressou preocupação com o fato de uma promessa anterior de fornecer US$ 100 bilhões em financiamento climático anualmente não ter sido cumprida.
Falando na quarta-feira, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse que a Cúpula da Amazônia deu uma oportunidade para as nações com florestas tropicais se unirem antes da cúpula da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou COP28, em Abu Dhabi, em outubro.
“Vamos à COP28 com o objetivo de dizer ao mundo rico que, se quiserem preservar efetivamente a floresta que existe, precisam pagar não só para cuidar do dossel, mas para cuidar das pessoas que vivem sob isso,” ele disse.
A declaração de quarta-feira também criticou o que descreveu como restrições comerciais disfarçadas de medidas ambientais, em uma aparente referência à aprovação pela União Européia de uma lei que proíbe as empresas de importar bens relacionados ao desmatamento.
O comunicado foi assinado por líderes da Bolívia, Brasil, Colômbia, República Democrática do Congo, Equador, Guiana, Indonésia, Peru, República do Congo, Suriname, Venezuela e São Vicente e Granadinas.
As florestas tropicais desses países são ecossistemas críticos na luta contra as mudanças climáticas, capazes de absorver grandes quantidades de dióxido de carbono, além de abrigar diversas espécies.
Novo pacto segue Declaração de Belém
Um dia antes, os oito países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) —Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela— adotaram uma “nova e ambiciosa agenda compartilhada” para salvar a extensa floresta tropical sul-americana com o anúncio da Declaração de Belém.
O acordo, no entanto, ficou aquém do compromisso com o desmatamento zero até 2030. Em vez disso, criou uma aliança entre os países amazônicos para perseguir metas individuais de desmatamento, por meio da proteção dos direitos indígenas e da cooperação na gestão da água, saúde e desenvolvimento sustentável.
A declaração estabeleceu ainda um corpo científico para se reunir anualmente e produzir relatórios oficiais sobre a ciência relacionada à floresta amazônica, semelhante ao Painel Internacional das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Reportando de Belém, Lucia Newman, da Al Jazeera, disse que as autoridades estarão trabalhando em um acordo mais detalhado nos próximos meses.
“Será interessante ver o que acontecerá quando os chanceleres de todos os países que estão aqui se reunirem daqui a dois meses para acertar os detalhes dessa declaração de Belém”, disse ela.
Ainda assim, a cúpula não conseguiu satisfazer as demandas mais abrangentes dos grupos ambientalistas e indígenas, incluindo que todos os países membros adotem a promessa do Brasil de acabar com o desmatamento ilegal até 2030.
A declaração também não fixou um prazo para acabar com a mineração ilegal de ouro, embora os líderes tenham concordado em cooperar na questão.
As tensões surgiram antes da cúpula, com alguns líderes rejeitando a posição do presidente esquerdista da Colômbia, Gustavo Petro, que prometeu interromper a exploração de petróleo em seu país.
O presidente do Brasil, Lula, por sua vez, tem se abstido de tomar uma posição definitiva sobre o assunto. Ao assumir o cargo, Lula prometeu reafirmar o papel do Brasil como líder ambiental, depois que seu antecessor, o presidente de direita Jair Bolsonaro, reduziu as medidas para proteger a Amazônia.
Quase 60% da floresta amazônica está no Brasil. Alguns cientistas alertaram que, quando 20 a 25 por cento da floresta for destruída, as chuvas cairão drasticamente, transformando mais da metade da região em savana tropical e causando imensa perda de biodiversidade.
Fonte: www.aljazeera.com