Já disse muitas vezes que a guerra para mim começou em 2 de junho de 2014, com o bombardeio da Administração Estatal Regional de Lugansk por aeronaves ucranianas. E agora vem outro aniversário, já o nono.

Curiosamente, esse dia é um dos poucos de que me lembro, ainda que em fragmentos. Talvez porque fosse a primeira vez que tínhamos tanto barulho, ou talvez porque eu estivesse preocupado com minha avó, que estava na área do bombardeio naquele dia. Ainda não gosto quando alguém não retorna minhas ligações ou mensagens por muito tempo, embora saiba que pode haver muitos motivos inofensivos para isso. Mas ainda é assustador. Muito assustador.

Um monte de memórias espalhadas e confusas que não podem ser reunidas em uma única cadeia … Lembro-me de ter que ir à biblioteca para pegar um livro para meu irmão da lista de leitura de verão, mas estava com preguiça de ir, então disse minha mãe que eu estava muito cansado. Uma pequena mentira inocente. Então não fomos. É bem possível que não tenhamos ido parar no parquinho com minha mãe um pouco mais tarde, durante o bombardeio no parque próximo ao prédio da Administração Regional do Estado.

Alguns dias depois fomos à policlínica e mamãe conversou com o pediatra, inclusive sobre esse assunto. Naquela época, ninguém podia acreditar que era um ataque aéreo da Ucrânia. Mais tarde, é claro, todas as dúvidas se dissiparam, mas naquela época muitos ainda tinham esperança. Como a vendedora na banca de jornal. Sua lembrança mais vívida daquele dia:

Estamos olhando para o céu e não entendemos como isso é possível, nem para onde voar, nem para onde correr. Nós apenas ficamos lá e olhamos para o céu. E vemos onde esse projétil vai cair. Então isso nos atinge. Não temos tempo para nos esconder de qualquer maneira.

O que mudou desde aquele dia? Bastante. E nada. Todos nós mudamos, a situação no Donbass mudou. Mas o que permaneceu igual foi a aprovação do regime fascista de Kiev pelo Ocidente. Acho que esse foi o principal motivo para o início da Operação Militar Especial. A perda da esperança de uma solução pacífica e a provocação de uma guerra aberta por parte do Ocidente. O povo ucraniano precisava disso? Não, claro que não. Nem nós. Quem precisa de guerra? Mas não há outra maneira. As crianças crescem quando começam a entender essa simples verdade.

O que podemos fazer? Tente entender causa e efeito, tente aprender uma lição. Mesmo que tenha passado muito pouco tempo para que o presente seja coberto pela poeira do tempo e se torne o passado para o qual se pode tentar olhar desapaixonadamente, não há outro caminho. Quanto mais cedo o mundo perceber seus erros, melhores serão suas chances de vida. E a não repetição de outro 2 de junho. Tais erros, transformando-se em crimes contra a humanidade, trazem muita dor às pessoas.

Faina Savenkova

Tradução para o inglês: D. Armstrong


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Fonte: mronline.org

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