“Cobrir com tinta cinza as marcas deixadas pela comemoração do 24 de março, fruto da participação das organizações sociais e políticas do Monte e do público em geral, é uma ação que deve ser revertida para não constituir uma afronta a este democracia.” , indica a carta enviada pelo CPM ao prefeito de San Miguel del Monte, José Castro. Em diálogo com ANDAR, a presidente da associação civil Casa de los Derechos Humanos Madres del Pueblo, Maricarmen Lamothe, afirmou que “por mais tinta cinza que usem, não conseguirão encobrir a história dos lenços”.

Há vários anos, a Casa de Direitos Humanos “Madres del Pueblo” realiza atos comemorativos todo dia 24 de março e nesta última ocasião o dia incluiu a projeção de vídeos, danças comunitárias, uma entrevista com o co-roteirista do filme Argentina 1985 e um dos atores e outras expressões artísticas que decorreu das 19h00 até depois das 22h00 no anfiteatro da Praça Adolfo Alsina, em frente ao Paço Municipal.

Entre essas atividades, também foi dado reconhecimento aos familiares de Jorge Alberto “el Tano” Bigi -que ainda está desaparecido- e foram pintados os lenços das Mães da Plaza de Mayo e o slogan “Nunca Más” foi realizado nas proximidades do anfiteatro, tarefa da qual participaram meninas, meninos e jovens da cidade de Buenos Aires e que representa a luta das Mães, além de ser um símbolo de renome mundial.

Ressalte-se que, como a pintura de lenço havia sido anunciada nos editais do edital, dias antes do dia 24 de março, um membro do governo municipal entrou em contato com Maricarmen Lamothe sugerindo que não realizassem a pintura de lenço para evitar a deterioração do público espaço e “cuidar do lugar comum”, uma avaliação surpreendente que foi rejeitada pela Casa de Direitos Humanos Madres del Pueblo.

Essa sugestão, enfim, seria descoberta dias depois como um alerta, tendo em vista que, na madrugada de segunda-feira, 27 de março, funcionários municipais cobriram os lenços das Mães com tinta cinza e o slogan Nunca Más.

Assim, a CPM enviou nota ao prefeito José Castro na terça-feira, 28, manifestando seu repúdio à medida que cobria os símbolos dos lenços.

“Deve-se notar que a ação pública e coletiva de pintar lenços nas vias e praças públicas é um ritual que se realiza há anos para simbolizar, reivindicar e recordar o enorme ato de coragem e amor que as Mães de Playa de Mayo deixaram em suas mundialmente conhecidas Rondas en la Pirámide de Mayo, que se espalharam por vários lugares do país”, afirma a carta.

Acrescenta que é no espaço público que decorre a vida política, onde a comunidade se reúne para falar, discutir e expressar-se. A praça é o lugar da democracia, o lugar onde ela nasceu e se reafirma dia após dia. Democracia é diversidade, debate, controvérsia e liberdade de expressão.

“Cobrir com tinta cinza as marcas deixadas pela comemoração do 24 de março, fruto da participação das organizações sociais e políticas do Monte e do público em geral, é uma ação que deve ser revertida para não constituir uma afronta ao esta democracia. É obrigação dos Estados homenagear as vítimas do terrorismo de Estado, como forma de reparar os danos e garantir sua não repetição”, enfatiza a organização de direitos humanos.

E conclui: “Esse ato de cobrir o lenço branco não só ameaça a livre expressão da comunidade, como também ofende e revitimiza as pessoas que sofreram os graves crimes cometidos pelo terrorismo de Estado. Por isso, pedimos que retifiquem a medida adotada pela autarquia e promovam a repintura dos lenços.”

Por sua vez, a Associação Casa dos Direitos Humanos Madres del Pueblo também enviou uma nota ao prefeito local na qual destacou que “não haverá pintura que apague da memória coletiva do povo argentino a façanha libertadora das Mães, que aponta o caminho da luta pela Memória, Verdade e Justiça”.

“Pedimos que revejam a vossa atitude, apoiando a repintura do lenço com base no nosso direito à livre expressão e ao uso dos símbolos que nos representam”, concluíram.

Em diálogo com o ANDAR, o presidente da Associação Civil, Maricarmen Lamothe, destacou os sinais de apoio e acompanhamento que receberam não só em San Miguel del Monte, mas em muitas partes da Província, e concordou que “por mais tinta cinza do que uso, não conseguirão encobrir a história dos lenços”.

Segundo Lamothe, algo semelhante já havia ocorrido há algum tempo, quando o município também cobriu com tinta cinza os nomes dos jovens vítimas do Massacre de Monte, e outras palavras de ordem contra o gatilho fácil, a violência institucional e em defesa dos direitos humanos.


Fonte: https://www.andaragencia.org/la-cpm-reclamo-al-intendente-de-san-miguel-del-monte-por-los-panuelos-de-las-madres-borrados-por-orden- municipal/

Source: https://argentina.indymedia.org/2023/03/29/la-cpm-reclamo-al-intendente-de-san-miguel-del-monte-por-los-panuelos-de-las-madres-borrados-por-orden-municipal/

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