O então representante permanente do Vietnã nas Nações Unidas, Nguyen Phuong Nga, discursa na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2 de outubro de 2015. | Foto via ONU
Não faz muito tempo que o Vietnã era um dos países mais pobres e diplomaticamente isolados do mundo, mas esses dias se foram. O Vietnã hoje desempenha um papel cada vez mais importante — e construtivo — no cenário internacional.
Nos últimos anos, o país teve um dos mandatos mais bem-sucedidos como presidente da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), liderou o Conselho de Segurança das Nações Unidas e tem sido uma força motriz no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Em 2019, Hanói foi a anfitriã da cúpula do presidente dos EUA, Donald Trump, e do líder norte-coreano, Kim Jong Un, um esforço para intermediar o degelo das tensões EUA-RPDC.
Para entender como o Vietnã conseguiu uma reviravolta tão drástica, é importante entender os princípios básicos da política externa do país. Ao revisar os princípios de relações internacionais do Vietnã, torna-se imediatamente aparente o quanto a abordagem vietnamita difere da dos Estados Unidos.
Política de pessoas em primeiro lugar
Um dos pilares que o governo vietnamita afirma aderir ao avaliar qualquer escolha política é que toda decisão deve servir ao povo do Vietnã. O Partido Comunista do Vietnã, que é o partido governante, diz que seu trabalho é servir ao povo do Vietnã – uma posição que, segundo o partido, informa a política externa do Vietnã.
Os Quatro Nãos
Os “Quatro Nãos” são quatro redlines da política externa que o governo vietnamita diz que se recusa a cruzar. São eles: o Vietnã não se juntará a nenhuma aliança militar; O Vietnã não ficará do lado de nenhum país para prejudicar outro país; O Vietnã não permitirá que nenhuma base militar estrangeira em seu território ou qualquer militar estrangeiro use o território vietnamita para atacar outro país; e o Vietnã não usará a ameaça da força nas relações diplomáticas.
Os “Quatro Nãos” destinam-se a assegurar a soberania do Vietname. Nenhum país pode ser verdadeiramente livre e independente, acredita o governo, com forças estrangeiras estacionadas em seu território. Os princípios também visam deixar claro para todos os outros estados e atores internacionais que o governo vietnamita pode ser confiável para tomar suas próprias decisões livres de influência externa.
Os “Quatro Nãos” também visam manter a paz na região. O Partido Comunista acredita que, para continuar em seu caminho para o socialismo e a prosperidade comum, a paz e o intercâmbio internacional são necessidades absolutas.
Em contraste com o governo dos EUA, que parece estar perpetuamente em estado de guerra em algum lugar do mundo e gasta metade ou mais de seu orçamento com as forças armadas, o governo vietnamita diz que prefere investir mais em infraestrutura, saúde, modernização e bem-estar social.
Coexistência pacífica
Os Estados Unidos têm perseguido historicamente uma política de “conosco ou contra nós”; em sua maioria, os países são classificados como aliados ou adversários. Os países do lado errado dessa divisão enfrentaram, em vários momentos, sanções econômicas incapacitantes, golpes planejados ou auxiliados pela inteligência dos EUA e até ataques militares diretos.
O Vietnã é um país de orientação socialista em um mundo dominado pelo capitalismo. Essa é a realidade que o país deve enfrentar e, por isso, o governo vietnamita diz reconhecer que um bom relacionamento com todos os países – seja qual for seu sistema socioeconômico – é o que mais beneficia o povo vietnamita. É o necessário para que o subdesenvolvido Vietnã continue crescendo economicamente e construindo os requisitos para o socialismo. Portanto, o governo vietnamita segue uma política de coexistência pacífica com todos os países.
Diplomacia de pessoa para pessoa
A abordagem vietnamita à política externa vai além das relações diplomáticas tradicionais entre funcionários do Estado e diplomatas. O governo busca amizades profundas e duradouras entre o povo do Vietnã e os povos do mundo. Essas relações vão além das administrações e governos.
Por exemplo, durante a guerra dos Estados Unidos contra o Vietnã, o governo fez um grande esforço para desenvolver fortes relacionamentos com ativistas antiguerra nos Estados Unidos e em todo o mundo. Esses amigos do Vietnã passaram décadas, de 1975 a 1996, pressionando todos os governos dos Estados Unidos a suspender seu criminoso bloqueio econômico ao Vietnã.
Isso, mais uma vez, pode ser contrastado com a política externa dos Estados Unidos, que muda drasticamente e repentinamente toda vez que um novo presidente assume o cargo. Isso deixa outros estados sem saber onde os EUA ficarão de um ano para o outro nas principais questões internacionais. A administração Obama, por exemplo, assinou o Acordo Climático de Paris, negociou com o Irã seu programa nuclear e buscou a normalização das relações com Cuba. A administração Trump que se seguiu inverteu o curso em cada uma dessas políticas.
Um parceiro respeitado
Hoje, o Vietnã está rapidamente se tornando um dos países mais respeitados em muitos círculos diplomáticos, enquanto o prestígio dos EUA continua a diminuir, especialmente em qualquer lugar fora da Europa Ocidental.
Os EUA continuam sendo uma superpotência e seus aliados e países satélites, portanto, geralmente continuam a seguir a linha estabelecida por Washington. No entanto, os governos estrangeiros sabem que devem ser extremamente cautelosos quando se trata de suas relações com os EUA, porque tudo pode mudar radicalmente sempre que a Casa Branca recebe um novo ocupante.
A República Socialista do Vietnã oferece ao mundo um modelo diferente de política externa. O mundo neoliberal e capitalista está atolado em décadas de guerra sem fim. O Vietnã não apenas mostra que relações diplomáticas pacíficas são possíveis, mas também que um país pode prosperar e crescer ao buscar a paz e priorizar as necessidades de seu povo.
Como acontece com todos os artigos de opinião publicados pela People’s World, este artigo reflete as opiniões de seu autor.
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Fonte: www.peoplesworld.org