Walter Baier
Vou tentar servir a uma dupla função. Por um lado, vou moderar e construir consenso. Mas também estudei integração européia e política de segurança por quinze anos, e tenho minhas próprias opiniões sobre o assunto que vou colocar em discussão. Quando se trata de encontrar consenso, começo com duas considerações. A primeira é que as diferenças de opinião na esquerda não são causadas principalmente por diferenças ideológicas, mas por diferentes condições objetivas que levam a diferentes julgamentos políticos. Por esta razão, em vez de dar sermões uns aos outros, devemos aprender a entender os interesses uns dos outros através do diálogo.
O segundo princípio metodológico decorre do meu trabalho político anterior: claro, a política é sempre uma questão de compromisso. No entanto, às vezes, para chegar a um consenso, é preciso algo mais: a saber, um aprofundamento da análise. Acima de tudo, temos que pensar no futuro.
A guerra na Ucrânia é um exemplo praticamente clássico disso. A Suécia e a Finlândia estão em processo de adesão à OTAN. Na Finlândia, a Aliança de Esquerda, um partido observador do EL, é um dos partidos governantes. Agora, é claro que podemos continuar falando sobre o quão lamentável é essa decisão. Mas a vida continua, e a política também. Surgem novas questões, tais como: Armas nucleares ou sistemas de lançamento com capacidade nuclear serão estacionados na Suécia e na Finlândia? Esses países permitirão que tropas estrangeiras sejam estacionadas dentro deles? Eles participarão das intervenções da OTAN?
Todos os estados membros da OTAN hoje enfrentam essas questões. E eles são ponto de discórdia. Se os curdos na Suécia serão deportados para a Turquia é um ponto de discórdia. Juntar-se à OTAN não responde a nenhuma dessas perguntas; ao contrário, dá origem a eles.
Nos debates sobre a guerra na Ucrânia e suas consequências, acho menos relevante falar sobre promessas quebradas a Gorbachev, a intervenção da Rússia na Chechênia ou a expansão da OTAN para o leste. Eu tenho minha interpretação aqui, mas tais interpretações são sempre controversas.
Na minha opinião, temos de discutir o que a segurança europeia presente e futura exige. Claro, a guerra na Ucrânia deve terminar e as tropas russas devem ser retiradas. Um tratado de paz deve levar em conta tanto a autodeterminação nacional ucraniana quanto o interesse da Rússia em uma fronteira segura. De uma perspectiva pan-europeia, existe atualmente a questão do acordo entre a Rússia e os Estados Unidos para não estacionar novos mísseis nucleares de médio alcance na Europa. Nesta perspectiva, a Europa deveria ser completamente libertada de armas nucleares e o nível de armamentos reduzido. Seja como for que vejamos a pré-história da guerra na Ucrânia, precisamos encontrar soluções comuns para essas questões.
Source: https://jacobin.com/2023/01/party-of-the-european-left-european-union-elections-democracy-strategy-ukraine