Uma multidão reuniu-se este sábado na antiga ESMA para rejeitar as demissões e o esvaziamento levado a cabo pelo governo negacionista de Javier Milei e Victoria Villarruel na área dos direitos humanos. Taty Almeida exigiu um debate com o presidente e seu vice para “perguntar-lhes cara a cara se concordam com seus amigos genocidas por terem jogado tantos de nossos filhos na água, no rio, vivos”.
Fotos: Nicolas Solo ((i))
No último dia 31 de dezembro, por ocasião do Ano Novo, o ex-juiz e atual secretário de Direitos Humanos da Nação, Alberto Baños, enviou mensagens por WhatsApp anunciando o fechamento do Centro de Memória Cultural Haroldo Conti, que funciona na sede do qual foi a Escola de Mecânica da Marinha (ESMA) e um dos Centros Clandestinos de Detenção, Tortura e Extermínio durante a última ditadura, e a transferência para disponibilidade – “guarda passiva” – do e os trabalhadores.
Foi o último ato de um ano inteiro de demissões, desfinanciamentos e esvaziamento da área por parte do governo de Milei e Villarruel, que convergem com as negociações que acontecem paralelamente buscando a libertação e a impunidade dos genocidas.
Por isso, mais uma vez a antiga ESMA foi chamada a abraçar os trabalhadores, e desta vez o apelo multiplicou-se várias vezes em relação ao do passado dia 27 de dezembro.
Fotos: Comida ((i))
Nenhum canal de televisão de Buenos Aires enviou qualquer telefone celular para cobrir a atividade, apesar da massividade do evento e da gravidade do ataque às políticas de Memória, Verdade e Justiça. A maior parte da imprensa hegemónica e da rádio também decidiu ignorar o dia. Sim, um celular com câmeras e antena parabólica da Polícia Federal esteve presente para espionar a multidão.
Em seu discurso no festival, a delegada Nana González Rehermann falou sobre as políticas negacionistas da atual administração de extrema direita, levadas a cabo na área por Mariano Cúneo Libarona e Alberto Baños:
“Uma colega, Verito Castelli, com os olhos cheios de lágrimas, disse ‘dizem que me dissociam dos direitos humanos’. Ninguém me separa dos direitos humanos.’
Você acha que porque nos demitiram não vamos continuar defendendo este lugar? Continuaremos sempre defendendo-o! Continuaremos sempre defendendo-o!
Pensei, hoje, em encontrar mais palavras para falar nesta praça, pensei, em dois dias, esses colegas do Centro Cultural Memória Haroldo Conti produziram, pensaram, criaram, debateram e realizaram este Festival porque é o que sabemos fazer fazer. . Somos produtores de cultura. Isto é o que sabemos fazer.
Eles destroem, censuram, disparam, desaparecem. Essa é a cadeia de significantes, porque é isso que precisa ser entendido, essa é a cadeia de significantes. Eles estão em um lugar, bem, nós estamos em outro. Isto é o que temos que entender. Vamos continuar construindo, vamos continuar resistindo, mas vamos fazer isso com o nosso legado nas costas, mas olhando para frente, porque queremos imaginar outra Argentina, porque queremos imaginar outras possibilidades para este povo e para todos os trabalhadores.
Precisamos ser capazes de articular todas as lutas. Precisamos ser capazes de pensar e imaginar outros mundos, outras possibilidades mais justas para todos.
Camaradas, somos uma enorme comunidade no entorno do Centro de Memória Cultural Haroldo Conti. Está aqui, nesta área da Memória e dos Direitos Humanos. Agradecemos imensamente. Nos sentimos muito menos sozinhos com vocês aqui e pedimos que continuemos juntos, que continuemos lutando. Obrigado a todos.”
Entre os oradores destacou-se a intervenção de Taty Almeida, presidente das Madres de Plaza de Mayo Línea Foundadora, que desafiou Victoria Villarruel e Javier Milei para um debate presencial.
“Olá, olá! Boa noite!
Povo da Praça, a Mãe os abraça!
Bem-vindo! Bem-vindos colegas!
Caros colegas. Sim, sou Taty Almeida, Presidente da Mãe da Plaza de Mayo, Linha Fundadora! E em nome de todas as Mães, da Mesa Redonda das Organizações de Direitos Humanos e de tantas outras pessoas, não só da Argentina, mas da Europa, de todos os lugares, enviam um grande abraço e um repúdio a este Governo negacionista.
E pensar que conseguimos entrar na antiga ESMA há anos atrás quando o nosso querido outro filho e sempre presente, Néstor Kirchner…
(Cantam) Néstor não morreu! Nestor não morreu! Néstor mora na cidade!
Pensar que naquele momento Néstor pediu perdão ao Estado cúmplice, e hoje sei, querido Néstor, que de algum lugar você também está pedindo perdão a este Estado totalmente cúmplice dos genocidas, negacionistas, ou melhor, um Estado que o Governo destruiu. Um Estado que deveria estar ao serviço do povo e que o sacrifica totalmente.
Veja o que aconteceu com a Secretaria de Direitos Humanos! Meu Deus! Banheiros! No que você está pensando? Você é responsável, junto com Milei, com Villarruel, por todas essas demissões cruéis e desumanas! Mas aqui estamos mostrando para você! Uau, as pessoas vieram!
E sei que muitos estão fazendo isso pela primeira vez! Aqui estamos nós, demonstrando, mas devemos demonstrar com muito mais fatos que um povo unido nunca será derrotado. É isso que estamos demonstrando com os fatos que realmente temos e estamos demonstrando, que eles não nos derrotaram!
Todo esse comportamento desumano, totalmente desumano que este Governo está realizando já está se tornando visível, devemos ver desde o exterior, os argentinos que vivem no exterior e muitos irmãos que também são estrangeiros, como este Governo os escreve, os repudia e os culpa.
Gostaria de ter uma conversa cara a cara com Villaruel, Milei e companhia, e perguntar-lhes, perguntar-lhes, mas cara a cara, se concordam com os seus amigos genocidas por terem jogado tantos dos nossos filhos na água, no rio, vivo, desde aquele avião que recuperamos. Às nossas Mães, às religiosas francesas, às doze da Santa Cruz e a muitas outras.
Eu lhes perguntaria se concordam com seus amigos genocidas por terem se apropriado dos bebês que entre parênteses e as Avós e todos nós recuperamos 138.
Por isso é tão importante que todos nós, todos nós que estamos aqui hoje com estas velas, não seja para iluminar, seja para continuar iluminando o caminho que vamos seguir.
Camaradas, a luta continua, não desistam, lembrem-se do que nós, Mães, dissemos e fizemos há 47 anos, a única luta que se perde é a que se abandona.
Repito, não baixem os braços, nós, malucos, dizemos que apesar das bengalas e das cadeiras de rodas, continuamos de pé, aqui.
(Cantam) Mães da Praça, o Povo te abraça!
E como sempre, não porque este encontro acabe, porque não é um ato, é um encontro com pessoas que mostram ter memória, aquela memória que nem Milei, nem Villaruel, nem Baños poderão apagar algum dia. É para isso que servimos todos, é para isso que servem as Mães que somos muito poucas, mas estamos tranquilos porque passamos o bastão para vocês, jovens e não tão jovens, que graças a Deus existe uma militância maravilhosa, não’ não é preciso ter medo da militância verbal, militância é compromisso, camaradagem, ajudar o próximo, como fez Alejandro (seu filho)assim como os 30.000.
(Eles cantam) Olé, olé, olé, olé, olé, olé! Aonde quer que eles vão, nós iremos procurá-los! Olé, olé, olé, olé, olé, olé! Como vai acontecer com os nazistas, onde quer que eles vão, iremos procurá-los!
Repito, embora esta reunião vá continuar, quero que gritemos bem alto porque eles estão e estarão sempre presentes: 30.000 detidos desaparecidos!
¡Presentes!
30.000 detidos desaparecidos!
¡Presentes!
30.000 detidos desaparecidos!
¡Presentes!
¡Agora!
E sempre!
Agora!
E sempre!
Agora! E sempre!
Eles não nos derrotaram! Pegar!”
O CONTI NÃO FECHA!
Somos o país da Memória, da Verdade e da Justiça. E há 30.000. Sim.
Vídeo: Christian Acuña pic.twitter.com/Wn1SFN6oq6
-HIJOS Capital (@hijos_capital) 5 de janeiro de 2025
“A unidade dos trabalhadores e quem não gosta está ferrado”, canta a multidão numa histórica noite de verão em defesa dos Direitos Humanos e da Memória. pic.twitter.com/PgVOl2iW5W
— Revista Cítrica (@revistacitrica) 5 de janeiro de 2025
Olha que curioso, quando pensam que estamos ao vivo eles mudam de atitude
Um celular que não foi ao ar em lugar nenhum, mas filmado
Memória que queima (e também incomoda) pic.twitter.com/jcanVSkVyX— SERGIO RODRIGUEZ ✌️ (@sergiopeinador) 5 de janeiro de 2025
Fonte: https://argentina.indymedia.org/2025/01/05/una-memoria-que-arde-en-defensa-del-conti-y-las-politicas-de-derechos-humanos/