Em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a caminhada do recém-eleito Luiz Inácio “Lula” da Silva na rampa do palácio presidencial do Planalto e foi empossado como presidente para um terceiro mandato, os brasileiros assistiram em estado de choque quando uma multidão atacou e invadiu edifícios do poder federal, incluindo o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, em Brasília, contestando o resultado das eleições.

Quase dez meses depois dos acontecimentos, neste dia 18 de outubro, um grupo de parlamentares aprovou um relatório que nomeia o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 60 pessoas como responsáveis ​​pelos acontecimentos que levaram aos ataques, no que chamam de “tentativa de golpe intencional”.

O relatório de 1.333 páginas é produto de quase cinco meses de audiências em uma comissão de investigação compilada por membros do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Foi aprovado com 20 votos a favor e 11 contra.

Além de Bolsonaro, o relatório cita cinco ex-ministros e oito generais das Forças Armadas por tentativa de golpe com invasão das sedes dos três poderes. Conforme noticiado pela Agência Brasil, o documento pede que Bolsonaro seja indiciado por associação criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado democrático e deposição de um governo eleito democraticamente.

A senadora Eliziane Gama, relatora, também apontou o ex-presidente de extrema direita como o “autor intelectual” dos acontecimentos, dizendo em “possíveis conclusões parciais”:

A sua presença nas redes sociais é marcada por palavrões e devassidão, articulando ódio, ignorância e mediocridade, de uma forma que reverbera os sentimentos mais baixos de um povo devastado pela crise económica e social. Nas eleições, essa estratégia digital aprofundou seu alcance e aprimorou seu método, tendo ele e toda sua família uma audiência robusta em diferentes mídias, como demonstra a pesquisa de Ana Júlia de Paiva Gennari.

Este modus operandi foi denominado Gabinete do Ódio, através do qual uma rede estruturada disseminou desinformação, ódio, ataques às urnas, à esquerda (ou o que identificaram como sendo de tal ideologia, mas nem sempre de acordo com os manuais de ciência política) e às instituições democráticas .

Especialistas ouvidos pelo jornal The Guardian disseram duvidar que o relatório “terá consequências jurídicas imediatas para o ex-presidente e seus aliados” e seja “politicamente simbólico e não crucial para qualquer processo futuro”. As acusações e demais ações dependem agora da análise do procurador-geral.

Quando ocorreram os ataques, Bolsonaro estava nos Estados Unidos, para onde viajou antes da posse de Lula para evitar estar presente na cerimônia. Lula estava visitando locais afetados por enchentes e fortes chuvas no estado de São Paulo, só retornando a Brasília no final do dia.

Os políticos bolsonaristas, como são conhecidos os apoiadores dos ex-presidentes, foram os que insistiram na instalação da comissão como estratégia para apontar a responsabilidade pelo fracasso em evitar os ataques ao atual governo, que aparentemente saíram pela culatra.

Resultados do relatório

O relatório traça uma linha do tempo de como os discursos e um ecossistema digital ajudaram a montar um ambiente que levou à radicalização de parte da população, culminando nos ataques de 8 de janeiro.

Aborda a crise da democracia, explica as ameaças e a retórica adotada pelos bolsonaristas, a montagem de milícias e robôs digitais, o papel das Big Tech, como as forças de segurança foram cooptadas e politizadas no período, os ataques feitos às sistema eleitoral que levou as pessoas a resistirem em aceitar os resultados das eleições, acampando em protesto durante meses e a sua radicalização.

Além de Bolsonaro, o relatório cita cinco ex-ministros e oito generais das Forças Armadas por tentativa de golpe com invasão das sedes dos três poderes.

Em junho de 2023, uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou Bolsonaro inelegível por oito anos, o que significa que ele não poderá concorrer a nenhum cargo neste período. O motivo foi uma reunião transmitida ao vivo, onde convidou embaixadores estrangeiros baseados no Brasil para mostrar o sistema eleitoral como não confiável, apenas alguns meses antes das eleições. Ele não apresentou qualquer evidência disso.

Perto do dia 8 de janeiro, dias antes do assalto aos prédios públicos de Brasília, como mostra a reportagem, houve uma convocação por meio de aplicativos de mensagens e redes sociais para uma “festa da Selma”, um trocadilho com a palavra portuguesa “selva”. , um grito de guerra usado pelos militares.

Apesar das comparações com a invasão do Capitólio em Washington, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, após a derrota de Donald Trump, os relatos dizem que o “partido de Selma” funcionou na verdade como um plano B inspirado nos protestos no Sri Lanka que levaram ao presidente Gotabaya Renúncia de Rajapaksa em 2022.

Com base em mensagens compartilhadas em grupos bolsonaristas, a reportagem diz que a ideia era fazer um cerco em Brasília, levando ao caos e a uma greve geral entre os dias 9 e 12 de janeiro. participar.

Algumas mensagens trocadas pelos manifestantes e apresentadas na reportagem mostraram que o Brasil realmente chegou à beira de tal caos. Como disse Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal que preside a investigação desses acontecimentos, ao decidir sobre uma das pessoas presas pelos atentados de 8 de janeiro: não foi um passeio de domingo no parque.

O relatório cita uma mensagem dizendo:

A previsão era de violência à frente. “A ideia é esta: não devemos ir e ser só paz e amor, não. Vamos entrar, não com flor… Já estamos sabendo que poderemos pegar borracha e algumas injeções.”

Até 27 de outubro, 20 pessoas tinham sido condenadas pelo Supremo Tribunal por envolvimento em ações ligadas ao ataque de 8 de janeiro. Eles foram acusados ​​de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático, golpe de Estado e dano ao patrimônio federal, com penas entre três e 17 anos.

Bolsonaristas’ take

Caso o relatório da senadora Eliziane Gama não fosse aprovado, a comissão poderia analisar em separado os votos apresentados pelos demais membros. Uma do senador Izalci Lucas, com 2.500 páginas, e outra com 348 páginas assinadas por 16 parlamentares, segundo a assessoria de imprensa do Senado. Pediram que Lula e seus governantes fossem responsabilizados por não agirem para impedir os ataques.

Em sessão um dia antes da aprovação, o senador Lucas afirmou que “o governo federal poderia ter evitado tudo o que aconteceu”.

O senador Magno Malta, pastor evangélico e aliado de Bolsonaro, disse:

O relatório da relatora, da senadora Eliziane Gama, é muito mais uma fantasia do que um documento oficial. Muita gente exposta, vidas arruinadas, muita narrativa, tudo para atingir um só homem: Jair Messias Bolsonaro. Nós, a oposição, apresentamos este relatório porque ele esclarece a verdade. A verdadeira história de 8 de janeiro será contada.

Outro senador, Flávio Bolsonaro, filho mais velho do ex-presidente, afirmou:

A leniência de Lula teve contribuição fundamental para permitir a invasão e destruição do patrimônio público. Se ele tivesse agido de acordo com as atribuições legais, não saindo da cidade e impondo, sem rodeios, a proteção dos prédios públicos federais, especialmente o Palácio do Planalto, certamente as invasões não teriam ocorrido ou os danos seriam mínimos.

Após a aprovação do relatório, um homem que trabalhava para um parlamentar bolsonarista assediou e criticou os senadores Gama e Soraya Thronicke, ex-aliada de Bolsonaro e candidata presidencial que agora o critica, seguindo-os e filmando-os. Mais tarde, ele foi demitido.

Fonte: https://www.truthdig.com/articles/brazils-congress-bolsonaro-accountable-for-january-8-mob/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=brazils-congress-bolsonaro-accountable-for-january-8-mob

Deixe uma resposta