O presidente reconhece seis reservas indígenas sob política suspensa por seu antecessor Jair Bolsonaro.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o reconhecimento formal de seis reservas indígenas, cumprindo uma promessa de campanha de reverter a política de seu antecessor de extrema-direita, Jair Bolsonaro.
As reservas na sexta-feira foram as primeiras a serem efetivamente reconhecidas pelo governo desde 2016 porque um reconhecimento em 2018 foi anulado por um tribunal.
Lula fez o anúncio como parte de uma reunião anual chamada Acampamento Terra Livre, em Brasília, de representantes de um milhão de indígenas do Brasil.
“Não deixarei nenhum território indígena desprotegido”, disse o presidente.
Líderes indígenas pediram a Lula que acelerasse o reconhecimento de 300 territórios indígenas que foram mapeados, mas esperaram anos para serem formalmente reconhecidos.
Bolsonaro, que foi apoiado pelo setor agrícola do Brasil e seu poderoso lobby agrícola, prometeu publicamente nunca permitir “mais um centímetro” de terra para reservas, dizendo que os indígenas tinham terra demais para tão poucas pessoas.
Cerca de 300 grupos indígenas vivem em 730 territórios que consideram terras ancestrais, principalmente na floresta amazônica, mas apenas 434 desses territórios foram oficialmente reconhecidos.
“É um processo demorado, mas vamos garantir que o maior número possível de reservas indígenas seja legalizado”, disse Lula na sexta-feira.
“Se quisermos alcançar o desmatamento zero até 2030, precisamos de reservas indígenas registradas.”
A designação proíbe atividades de mineração na terra e requer autorizações específicas para agricultura comercial e extração de madeira. Os não indígenas também estão proibidos de exercer atividades econômicas em terras indígenas.
Duas das seis novas reservas estão na Amazônia.
Um estudo de 2022 mostrou que as reservas indígenas no Brasil atuaram nos últimos 30 anos como uma defesa contra o desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, vital para moderar o clima global.
Ao cumprir sua promessa, Lula está mostrando ao mundo que pretende fortalecer os direitos dos povos indígenas e proteger a floresta tropical, disse Toerris Jaeger, chefe da ONG ambiental Rainforest Foundation Norway.
“As áreas indígenas são cruciais para a preservação da Amazônia, o banco central mundial da diversidade biológica… Os povos indígenas são os que melhor podem guardar essa riqueza”, afirmou.
Representantes do setor agrícola no Congresso brasileiro estão pedindo a aprovação de uma legislação que estabeleça uma data limite para as reservas que não foram ocupadas no momento em que a atual constituição do Brasil foi promulgada em 1988.
O prazo, que deixaria dezenas de milhares de indígenas sem a proteção de terras de reserva oficial, também está sendo debatido pelo Supremo Tribunal Federal, que deve se pronunciar em julho.
Sem proteção do Estado, as comunidades indígenas correm o risco de invasões de madeireiros ilegais e garimpeiros selvagens. Esses incidentes surgiram sob Bolsonaro, que queria permitir a agricultura comercial e a mineração mesmo em reservas reconhecidas.
Bolsonaro destruiu a Funai, agência de assuntos indígenas do governo, que começou a trabalhar para interesses não indígenas em conflitos de terra, disseram antropólogos e líderes comunitários.
Lula criou um Ministério dos Povos Indígenas em seu primeiro dia de mandato em janeiro e nomeou Sonia Guajajara, líder da principal organização indígena APIB, para chefiá-lo.
Fonte: www.aljazeera.com