Parte um:

Quando me pediram inicialmente para assinar as Vinte Teses para a Libertação, meu primeiro pensamento foi: “Por que não?” Eu conhecia os autores; Eu concordei com os sentimentos. Assinar não ia me custar nada.

Então eu fiz.

Desde então, tendo relido o documento e parado para refletir, é difícil não ficar constrangido com a minha reação/atitude.

Você sabe que é cínico quando lê algo tão abrangente, urgente e ao mesmo tempo esperançoso e o máximo de entusiasmo que consegue reunir é: “Não pode doer”. No entanto, estou disposto a apostar que não estou sozinho. Não porque não haja substância e inspiração a serem encontradas. Mas porque não temos certeza de que podemos realmente vencer.

Quantos de nós estamos apenas seguindo os movimentos, lutando o bom combate, “contribuindo com alguma coisa”, com pouca ou nenhuma expectativa de que isso chegue a alguma coisa?

Esses sentimentos são instrutivos. Evidência de quanto estamos enfrentando. E, se formos honestos, evidências de nossas próprias falhas na construção do movimento.

Mas, para que esses fracassos sirvam de lição, é imperativo que participemos desse chamado com mais do que apenas nossa assinatura.

Isso não pode ser tudo o que somos. E as Vinte Teses não são apenas uma petição em uma prancheta.

É uma bússola para nossa jornada. E uma promessa de que o lugar que buscamos é real.

Você ainda acredita nisso? Você ainda acredita que há uma promessa real na humanidade?

Nesse caso, não precisamos de um mapa; nós precisamos um do outro. E precisamos de uma bússola.

Pois o valor em uma bússola não está apenas em manter seu senso de direção. É sobre manter sua festa unida. Uma referência para citar em momentos de confusão ou desacordo, ou mesmo de desespero. Algo confiável e verdadeiro.

É o que vejo neste documento. Espero que mais pessoas lhe deem atenção e reflexão sérias.

Parte dois:

Como signatário das Vinte Teses para a Libertação, meu primeiro ato de engajamento, se me permitem a ousadia, seria perguntar: é muito cedo para abraçar o apelo ao refinamento?

Caso contrário, gostaria de fazer uma sugestão para possível inclusão em um adendo futuro.

A Tese Um (Fundamentos) lista política, economia, parentesco, cultura, ecologia e relações internacionais como objetivos centrais de atenção para um movimento libertador de longo prazo.

Ao celebrar a natureza holística desta fundação, uma coisa que sinto que está faltando na lista é a Educação.

Não que a Educação esteja faltando no documento. Está incluído. Mas mais ainda como menção, a par de outros aspetos que constituem os objetivos centrais. É aludido ao invés de focado.

Se essas Vinte Teses devem ser instrumentais para a trajetória que desejamos para um mundo melhor, que tipos de humanos um futuro como esse exigiria?

Reconheço que a formulação “que tipo de humanos” pode ser estranha. Mas a questão é muito séria.

Que tipos de humanos seriam capazes e aptos a operar dentro de instituições políticas livres de elitismo e dominação?

Que tipos de humanos seriam agradáveis ​​a uma economia que aspira à ausência de classes e vê a equidade como um princípio orientador?

Que tipos de humanos seriam capazes de navegar pelo parentesco, gênero e relações sexuais de maneira saudável? Abraçar relações culturais e comunitárias verdadeiramente libertadoras e não hierárquicas?

Não são apenas as instituições que temos de mudar. Somos nós também.

A razão pela qual tantos resistem às alternativas propostas, porque tantos têm dificuldade em acreditar que a “natureza humana” permitiria uma sociedade justa, é porque nossas mentes foram condicionadas desde o nascimento a aceitar as normas e expectativas atuais. Acreditar de fato nessas normas é uma ordem natural.

Claro, isso não é evidência da natureza humana. É um testemunho do impacto que nossas instituições têm em nosso desenvolvimento.

Então, novamente, se realmente acreditamos que nosso mundo melhor é possível, devemos perguntar: que tipos de humanos poderiam fazer tudo isso, muito menos prosperar em tais instituições liberadas?

E ao responder a esta pergunta, podemos começar a perguntar: Que tipo de modelo educacional poderia ajudar na produção de tais humanos?

Pense nisso como engenharia reversa. Não é diferente de decidir sobre um modelo econômico perguntando primeiro quais valores queremos ver manifestados no resultado final.

Se queremos humanos saudáveis, humanos curiosos e com pensamento crítico, humanos que podem resolver disputas sem recorrer à violência, humanos equipados para participar de uma política melhor, de uma economia melhor, de melhores relações de parentesco, gênero, sexuais e culturais, então é isso que nosso sistema educacional deve ser. Não preparar as crianças para um dia preencher vagas em uma força de trabalho baseada em competição para que possam justificar sua sobrevivência e/ou dignidade.

Devemos construir um modelo de aprendizado baseado na experimentação e na experiência, guiado por evidências e melhores práticas, obtidas de tentativas e erros cuidadosos, porém ambiciosos.

Devemos buscar uma gama diversificada de instrutores interdisciplinares. Professores que consideram suas aulas de empatia tão importantes quanto, se não mais importantes, do que aulas de matemática e ciências. Um currículo que vê a formação de fundamentos de alfabetização midiática, apreciação cultural e inteligência/resiliência emocional como um requisito para se envolver com literatura, história e estudos cívicos/sociais.

Muito além do ensaio da linha de montagem capitalista a que nos acostumamos, devemos imaginar uma educação que não termine após os doze anos e o diploma opcional, mas que se estenda por toda a vida e além dos muros da educação infantil. Uma educação que mantém a própria capacidade que construiu e continua a construir. Equipando-nos para nossos papéis de parentesco, comunidade e política, além de nossos papéis econômicos.

Mas antes que possamos fazer isso, devemos reconhecer os ensinamentos de nossas instituições atuais pelo que são. Pois as lições que perpetuaram séculos de racismo, sexismo, classismo, homofobia, capacitismo e todas as outras formas de opressão hierárquica são uma forma de abuso. E da mesma forma que aspiramos evitar o legado físico e mental do trauma infantil, devemos encontrar uma maneira de produzir adultos que não recriem e transmitam o mesmo comportamento prejudicial.

Nossas instituições serão tão boas, tão sólidas quanto as pessoas que se espera que as facilitem e funcionem dentro delas. A menos que possamos equipar os membros de nossas comunidades para encontrar seu potencial e contribuir para a sociedade de maneiras valiosas e gratificantes, ao mesmo tempo em que apoiamos outros que fazem o mesmo, não há razão para acreditar que essas instituições produzirão os valores e os resultados que desejamos.

Por essas razões, recomendo humildemente que a Educação seja considerada, em adendo ou futura iteração das Teses, como um elemento central adicional de importância estratégica.

Eu ofereço esta sugestão, não como uma crítica, mas como uma demonstração da participação necessária e de boa fé necessária para que a atual iteração das Teses alcance finalmente seus objetivos.


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Fonte: https://znetwork.org/znetarticle/what-i-owe-the-twenty-theses-an-embrace-in-two-parts/

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