Ex e atual presidente brasileiro A breve lua de mel de Luiz Inácio “Lula” da Silva com a mídia corporativa dos EUA atingiu seu primeiro obstáculo esta semana, quando uma pequena história repetida na Reuters e na AP gerou manchetes nos jornais brasileiros, com o maior deles, O Globo, publicando um editorial com uma ameaça de golpe velada. .

Depois de anos de assassinatos de caráter, os veículos do establishment americano, como o New York Times, suavizaram Lula durante os últimos dois anos, como uma série de escândalos, desmatamento recorde na Amazônia, o assassinato do jornalista Dom Phillips do Guardian/Washington Post e um relacionamento íntimo com Steve Bannon, Donald Trump e seus comparsas de extrema-direita impossibilitaram o apoio à reeleição do presidente neofascista Jair Bolsonaro.

Os paralelos entre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 no Brasil e a incursão no Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 colocaram os meios de comunicação dos EUA com relações estreitas com o Partido Democrata, como o Times, em uma posição difícil. Criticar o governo Lula pode parecer oferecer apoio tácito ao Partido Republicano, em aliança com seus veículos preferidos como a Fox News, que exibiu um documentário da temporada eleitoral (22/09/22) alertando sobre a transformação do Brasil em uma colônia de seus maior parceiro comercial comercial, a China, caso Bolsonaro não fosse reeleito.

Lula assinou 15 acordos bilaterais com o presidente chinês, Xi Jinping, incluindo uma joint venture para a fabricação de satélites e abandono do dólar no comércio entre as duas nações.

Isso resultou em uma situação incomum, na qual veículos como o Times, após anos de cobertura negativa (por exemplo, 12/04/2014), produziram matérias amplamente neutras sobre o Partido dos Trabalhadores de Lula. Mesmo com a aproximação da viagem diplomática de Lula à China, essa cobertura equilibrada continuou, conforme demonstrado no artigo do Times de 14 de abril, “Lula do Brasil encontra Xi na China enquanto eles buscam o caminho para a paz na Ucrânia”. A peça incluía esta explicação precisa da posição do Brasil no conflito Rússia/Ucrânia:

O Brasil criticou a invasão da Rússia em declarações cuidadosamente redigidas, mas sua posição é complicada por sua dependência da Rússia para cerca de um quarto de suas importações de fertilizantes, que são cruciais para a enorme indústria agrícola do Brasil. O Sr. Lula também sugeriu que o presidente da Ucrânia e a OTAN compartilham parte da culpa pela guerra, e ele resistiu aos apelos para enviar armas para a Ucrânia.

Lula assinou 15 acordos bilaterais com o presidente chinês, Xi Jinping, incluindo uma joint venture para fabricação de satélites e abandono do dólar no comércio entre as duas nações, e concedeu entrevista à emissora de TV chinesa CGTN (15/04/23) em que comentava sobre o conflito na Ucrânia:

Como vamos conseguir a paz na Rússia e na Ucrânia se ninguém fala em paz? Todo mundo está falando sobre guerra. Todo mundo está falando em dar mais armas à Ucrânia para atacar a Rússia, ou da OTAN movendo sua fronteira para a fronteira da Rússia. Então, o que estamos procurando? Países que querem paz. A China quer paz. O Brasil quer paz. A Indonésia quer a paz. A Índia quer paz. Portanto, temos que reunir esses países e fazer uma proposta de paz para a Rússia e a Ucrânia.

Mais tarde, durante uma coletiva de imprensa na China (Kawsachun News, 15/04/23), ele disse: “É preciso paciência para conversar com o presidente da Ucrânia. Mas temos que, acima de tudo, convencer os países que fornecem armas, incentivando a guerra, a parar”.

Em fevereiro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, convidou seus homólogos da Ucrânia e da Rússia, Dmytro Kuleba e Sergey Lavrov, para visitar o Brasil. Lavrov aceitou a oferta, anunciando que chegaria a Brasília logo após o retorno de Lula da China. Durante a conferência de imprensa após a reunião, Lavrov disse:

Quanto ao processo na Ucrânia, agradecemos aos nossos amigos brasileiros pela excelente compreensão da gênese dessa situação. Nós somos gratos [to them] por se empenhar em contribuir para encontrar formas de resolvê-lo.

A reunião com o diplomata russo parecia ser a gota d’água, já que correspondentes estrangeiros e analistas do Brasil que haviam se contido o ano todo começou para criticar o governo Lula em Twitter.

Naquela noite, a Reuters e a AP publicaram artigos semelhantes citando o mesmo funcionário do governo dos EUA, que foram imediatamente divulgados em organizações de notícias parceiras em todo o mundo.

O artigo da AP “Recebido pelo Brasil ao Ministro Russo Prompts Blowback dos EUA” (4/17/23) relatou uma “repreensão extraordinariamente dura da Casa Branca,” com o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional John Kirby “explodindo” a posição do Brasil sobre o conflito. Sem explicar onde e com quem ocorreu a conversa – não houve coletiva de imprensa na Casa Branca naquele dia – o artigo inclui a seguinte citação de Kirby:

O Brasil tem abordado essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados ​​na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra. Nesse caso, o Brasil está repetindo a propaganda russa e chinesa sem olhar para os fatos.

Reuters‘, intitulado “Lula do Brasil atrai elogios da Rússia, desprezo dos EUA pela opinião sobre a Ucrânia” (17/04/23), repetiu a declaração de Kirby de que o Brasil estava “papagaiando” a propaganda russa. Acrescentou que Kirby chamou a posição do Brasil de “simplesmente equivocada”.

Enquanto o poder econômico dos EUA continua diminuindo ao sul de sua fronteira, como resultado do que muitos chamam de uma nova guerra fria contra a China, o governo dos EUA e seus aliados na mídia continuam tentando afirmar a influência imperial sobre a América Latina.

Minutos após o lançamento da Reuters, a maior empresa de mídia do Brasil, a Globo, divulgou um artigo parafraseando-o em seu site de notícias on-line G1 (17/04/23), e outras grandes empresas de mídia brasileiras seguiram o exemplo.

O conglomerado O Globo, jornal de maior circulação do país, publicou um editorial (17/04/23) criticando os apelos de Lula pela paz e pedindo que o Brasil se alinhasse mais estreitamente com os EUA e a OTAN no conflito na Ucrânia. O jornal, que apenas se desculpou por seu apoio à ditadura militar de extrema-direita do Brasil de 1964-85 em 2013 e apoiou ativamente o golpe legislativo de 2016 contra a presidente Dilma Rousseff, encerrou seu editorial com uma ameaça:

Ao contrário, dos quase 130 “neutros” no conflito ucraniano, o Brasil é o único que se envolveu na criação de um “clube da paz” e flerta abertamente com a Rússia. O perigo de provocar americanos e europeus é evidente: Lula corre o risco de cair.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, muitas das maiores empresas de mídia, incluindo o New York Times, não pegaram a história da Reuters e da AP. Existe uma expressão antiga no Brasil, que remonta ao período do colonialismo econômico britânico (aproximadamente entre as décadas de 1830 e 1930), que diz “This is news for the English to see”, que é usada para se referir a histórias geradas especificamente para um público estrangeiro.

Os artigos da Reuters e da AP, ao contrário, parecem notícias geradas especificamente para o público brasileiro. Ao entregar uma mensagem da Casa Branca ao governo brasileiro, que ganhou as manchetes no Brasil, embora aparecesse apenas como uma história menor, se é que foi noticiada, nos meios de comunicação dos EUA, AP
e a Reuters parecia atuar como uma ferramenta para o Departamento de Estado dos EUA exercer soft power sobre o Brasil.

Enquanto o poder econômico dos EUA continua diminuindo ao sul de sua fronteira, como resultado do que muitos chamam de uma nova guerra fria contra a China, o governo dos EUA e seus aliados na mídia continuam tentando afirmar a influência imperial sobre a América Latina. Acrescente isso ao relacionamento acolhedor entre as forças armadas brasileiras e americanas, que foi fortalecido após a visita de Bolsonaro ao Southcom em 2020, e mostra a magnitude dos desafios enfrentados pelo governo Lula na tentativa de recuperar os recursos e a soberania da política externa perdidos após o Golpe de 2016 apoiado pelos EUA.

Source: https://www.truthdig.com/articles/western-outlets-send-warning-to-lula-over-ukraine-dissent/

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