O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, solicitou um visto de turista de seis meses para permanecer nos Estados Unidos, disse seu advogado, enquanto o político de extrema direita enfrenta uma investigação em casa sobre as acusações de ter ajudado a incitar o motim deste mês na capital brasileira.
As autoridades dos EUA receberam o pedido de visto de Bolsonaro na sexta-feira, disse seu advogado, Felipe Alexandre, à agência de notícias Reuters em um comunicado por e-mail na segunda-feira. A notícia foi relatada pela primeira vez pelo The Financial Times.
Enquanto o pedido é processado, Bolsonaro permanecerá nos EUA, disse Alexandre. “Ele gostaria de tirar uma folga, clarear a cabeça e aproveitar como turista nos Estados Unidos por alguns meses antes de decidir qual será o próximo passo”, disse o advogado.
“Se ele usará ou não os seis meses completos, dependerá dele e de qualquer estratégia que concordarmos em embarcar com base em seus planos à medida que eles se desenvolvem.”
Bolsonaro – que trocou o Brasil pelos EUA poucos dias antes de seu sucessor, o presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, tomar posse neste mês – enfrentou críticas generalizadas depois que uma multidão de seus apoiadores se revoltou na capital Brasília em 8 de janeiro.
Milhares de apoiadores de Bolsonaro saquearam o Congresso, o palácio presidencial e o Supremo Tribunal do país em uma tentativa de pressionar os militares a anular os resultados das eleições de outubro, que viram Lula derrotar por pouco seu rival de extrema direita em um segundo turno tenso.
Bolsonaro, um ex-capitão do exército que expressou admiração pelo regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, alegou falsamente por meses que o sistema de votação eletrônica do país era vulnerável a fraudes.
Ele manteve um longo silêncio público após a confirmação dos resultados da eleição e nunca reconheceu formalmente a vitória de Lula – levando alguns observadores a dizer que ele ajudou a preparar o cenário para o motim em Brasília, uma acusação que Bolsonaro rejeita.
Após o ataque, Bolsonaro disse no Twitter que protesto pacífico faz parte da democracia, mas vandalismo e invasão de prédios públicos foram “exceções à regra”. Seu filho, o senador Flavio Bolsonaro, também criticou as tentativas de vincular o ex-presidente ao motim, dizendo que seu pai estava “praticamente incomunicável” desde que os resultados das eleições foram anunciados.
Mas em meados de janeiro, o Supremo Tribunal do Brasil concordou em abrir uma investigação sobre as alegações de que Bolsonaro incentivou os protestos antidemocráticos “que resultaram em vandalismo e violência em Brasília”.
“As figuras públicas que continuarem a conspirar covardemente contra a democracia tentando estabelecer um estado de exceção serão responsabilizadas”, disse na época o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que lidera as investigações.
Bolsonaro esteve no estado americano da Flórida, onde procurou atendimento brevemente em um hospital local no início deste mês por dores abdominais relacionadas a um ferimento de faca que recebeu durante a corrida presidencial de 2018, que venceu.
O ex-presidente disse anteriormente em entrevista à CNN Brasil que planejava voltar ao Brasil até o final de janeiro e estava pensando em antecipar sua saída por motivos de saúde.
Ele teria entrado nos EUA com um visto para visitar líderes mundiais, que expira na terça-feira, já que Bolsonaro não está mais em negócios oficiais.
Um aliado de Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também estava de férias na Flórida quando estourou o motim de 8 de janeiro na capital do Brasil. Mas Torres, que era o responsável pela segurança em Brasília no momento do atentado, já voltou ao Brasil, onde foi preso sob a acusação de “conivência” e “omissão”.
A presença de Bolsonaro nos EUA despertou preocupação de alguns legisladores americanos, que recentemente instaram o presidente Joe Biden a “não [to] dar abrigo a ele ou a qualquer autoritário que tenha inspirado tal violência contra as instituições democráticas”.
“Devemos cooperar totalmente com as autoridades brasileiras na investigação de qualquer papel que o Sr. Bolsonaro ou aqueles ao seu redor desempenharam nos eventos de 8 de janeiro e quaisquer crimes que ele cometeu quando estava no cargo”, disseram dezenas de membros do Congresso dos EUA em uma carta de 12 de janeiro (PDF ) para Biden.
Cerca de 1.400 pessoas foram presas em relação ao ataque em Brasília, com o governo de Lula se comprometendo a responsabilizar todos os que participaram dos distúrbios, bem como aqueles que ajudaram a planejá-los e executá-los.
Fonte: www.aljazeera.com